quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Bela



Bela

Teu nome vem no vento e agita as cortinas
És essência diáfana
Uma fumaça de feminilidade cheirosa
És forte e persistente como a terra e o sangue.
Teu nome se torna um corpo em forma bela
Pisas o barro com pés pequenos e finos.
Estás na minha frente, na amplidão.
É um sonho.
Só existe tua forma e o espaço
E é como se fosses um plano de existência
Em torno do qual gravito:
Mariposa entorpecido pela luz que me atrai
Contra a qual me debato,
E me machucas e me cortas
E meu sangue desce em gotículas amarelas
As quais lambes, libertando-me de todas as feridas.

II
Em meu sonho me conduzes
E me levas a teus lugares secretos
Somos cúmplices,
Nem amantes, nem amigos, apenas cúmplices.
Nosso crime nos levar a penar continuamente
Em cenários de cortinas e véus,
Solitários, lado a lado,
De pelos arrepiados,
Miando como gatos
Nesta eterna madrugada.
Minha pele te arranha,
Minha barba te tortura,
Tuas unhas me incendeiam,
Nossas línguas se misturam,
E nos perdemos nesta noite insana.
Como dois felinos boêmios e loucos
A assombrar a vizinhança
Que dorme enquanto vadiamos

III
Quando acordo, és só a brisa.
Acaricias meu corpo.
Teus dedos levemente tocam meus pelos,
Escorregam pelos meus mamilos arrepiados,
Brincam com a água que escorre no meu banho.
Espionas-me e não te vejo.
Vens em volteios novamente e beijas minha nuca
Procuro-te, mas te esvais,
Novamente de soslaio
Invades o meu espaço sem que eu possa te agarrar.
Fluis por entre meus dedos
Fecho os olhos e sinto-te por cada poro aberto.

És então silêncio.

Estás em cada canto da casa
Brincando comigo e caçoando de mim.
Deito e te deitas a meu lado,
Tuas mãos a brincar nas gotas d'água
Que escorrem por entre minhas coxas.
Mas, como és vento e fuga não te posso tocar.
Nada mais que refém sou.
Nada mais que te sentir e desejar-te posso.
Pois te vais quando queres,
Para onde queres,
Sem ao menos eu saber
Quando um dia tua chuva de abril
Voltará para me beijar em pingos.