quinta-feira, 5 de maio de 2011

Balbúrdia das letras: De Norte a Sul uma mesma religião, Flamengo

Balbúrdia das letras: De Norte a Sul uma mesma religião, Flamengo: "De Norte a Sul uma mesma religião, Flamengo em 5 de maio de 2011. Muita gente não entende como o Flamengo, que ficou 17 anos sem ganhar um..."

De Norte a Sul uma mesma religião, Flamengo

De Norte a Sul uma mesma religião, Flamengo em 5 de maio de 2011.

Muita gente não entende como o Flamengo, que ficou 17 anos sem ganhar um título brasileiro, saiu de 40% da torcida carioca para 55% e fidelizou 35 milhões de torcedores no Brasil.
Bem, para explicar isto, há que começar de um primeiro fato. O Brasil é um país continente e o Rio de Janeiro é a capital cultural do Brasil, até hoje (e falo isto sem nenhuma sombra de bairrismo). Todos os grandes músicos brasileiros, incluindo os paulistas, para fazer efetivamente sucesso nacional tiveram que fazer carreira no Rio. Caetano, Gil, Dorival Caimmy, Ary Barroso, João Gilberto, Elis Regina. Não importa a naturalidade, tiveram que passar no duro teste do Rio de Janeiro.
Então, ao contrário dos comentaristas babacas da televisão que dizem que os campeonatos estaduais tem que acabar, porque a Espanha, a França e a Inglaterra não tem campeonatos estaduais, lembro sempre quantas Espanhas podem caber no Brasil.
Não dá para fazer campeonato regional na Espanha e não dá para resumir o futebol brasileiro a 20 clubes. Privilegiar só o brasileiro é levar á extinção o América, a Ponte Preta, o CSA, o Guarani, o Moto Clube, alguns destes clubes com milhões de torcedores.
Se o eixo Rio-São Paulo sobrevive só com a série A do brasileiro, e mesmo assim, só os clubes grandes, o resto do Brasil vai ter clubes fechando as portas.
Assim, o campeonato estadual tem sempre um grande gosto de ser conquistado e permanecerá eternamente, pela dimensão continental do nosso país, mesmo que esvaziado se comparado ao que foi há 20 anos. Mas, extinto, é impossível. E esta rivalidade estadual, há muito tempo, transbordou as fronteiras do estado Fluminense.
Tudo graças ao Rio Capital da República e a tronitoante voz de Orlando Silva, Francisco Alves, as cantoríssimas do rádio, Isaura Garcia, Dalva de Oliveira, Marlene e todos os grandes crooners e cantoras da rádio Nacional, que levaram não só a  música carioca Brasil à fora, mas também a paixão aos clubes do Rio de Janeiro.
Assim, os times do Rio de Janeiro levaram sua rivalidade regional ao Espírito Santo, à Santa Catarina, a todo o interior do nordeste e mesmo muitas capitais destes estados, à toda região norte e Centro Oeste.
Corta, fim da era do Rádio, porque então só o Flamengo se tornou o grande time regional?
A explicação é simples, AZ-DZ. As eras flamenguistícas medem-se por antes de Zico, depois de Zico. A popularidade no Rio de Janeiro do Flamengo, deveu-se, desde o princípio, ao fato de o Flamengo ser o Clube popular por excelência. Contraditando algumas teses, todos sabemos que o Fluminense sempre foi o clube da elite; o Botafogo, mesmo com o Garrincha, nunca conseguiu ser um clube popular, por último, o Vasco sempre foi visto com o clube do Colonizador.
Tudo bem, o Vasco e o Bangu foram os primeiros times no Rio de Janeiro (no Brasil não há comprovação de que foram eles) a admitir negros NO ELENCO.
E porque coloco NO ELENCO em maiúsculas. Porque admitir pé-de-obra negro num clube não é democratizá-lo. O futebol era um esporte que começou como sendo de elite e logo se popularizou. O Vasco era e é um clube aristocrático, num bairro que era da realeza e da corte, na época, São Cristóvão.
Os jogadores do Vasco na década de 20 eram negros, não os sócios. E nisto há uma clara divisão de classe, burguesia proletariado, agora proletários da bola.
Todos os clubes (talvez com exceção do Bangu, que era um clube da Fábrica Bangu) eram de elite, então, os jogadores sócios logicamente eram brancos.
No Vasco a dicotomia se manteve, sócios brancos, jogadores pagos negros.
Não houve uma democratização interna do clube que até hoje não tem voto democrático e elege um conselho de notáveis que junto com um conselho não-eleito de beneméritos que elege seu presidente. Qualquer comparação com a organização das Vilas impostas por Portugal e sua eleição só de homens de bem (ou homens de bens), não é mera coincidência.
Por esta razão (e não por racismo) a cidade toda torceu pelo Flamengo num Flamengo x Vasco na década de 20, quando o Flamengo representava então o Brasil diante de Portugal. Daí em diante, a paixão pelo clube só cresceu.
Na era Zico, uma era de televisão, o clube mais popular do Rio e do Brasil se tornou o único clube verdadeiramente nacional. E não venham falar de bairrismo. Todo país tem um clube nacional. Na Itália é o Juventus, na Argentina, o Boca, na Espanha, o Real, na Inglaterra, o Manchester. Um clube, que por alguma razão ganha uma identificação com seu povo e se torna símbolo que transcende suas fronteiras. O Flamengo que já tinha plantado raízes na era de ouro do rádio, vai se consolidar na época da consolidação da televisão.
Além dos vários títulos regionais, ninguém jogou futebol mais bonito, ninguém tratou melhor a bola nas décadas de 70 e 80 do que o Flamengo, no Brasil e seu esquadrão se comparou nestas décadas a poucos times no mundo, talvez o Ajax que inspirou a Holanda de 74. Um clube vira um mito via Zico e consolida-se no Brasil, levando a rivalidade carioca além das suas fronteiras.
Sim, a rivalidade carioca, porque, quem vira Flamenguista, seja no Oiapoque ou no Chuí, vibra com todos os títulos, inclusive o carioca.
Encerrando o segundo capítulo.
Terceiro round, como pode um time que ficou 17 anos sem título nacional conseguir aumentar sua supremacia em torcida?
Explicação fácil, o Flamengo não parou de ganhar títulos e ninguém ganhou tantos títulos como o Flamengo num período tão pequeno. Nem mesmo o São Paulo. Talvez o São Paulo tenha títulos mais expressivos, mas não na mesma profusão. O São Paulo fracassou na maioria dos campeonatos regionais.
Time que fracassa nos títulos regionais não consegue consolidar hegemonia no seu próprio estado. E quando um time não consolida hegemonia no seu próprio estado, mesmo que aumente sua torcida fora do Estado, não consegue ameaçar a hegemonia dos outros. O Corinthians foi arquirrival do São Paulo regionalmente e conseguiu até um título fake mundial. Isto barrou as pretensões do São Paulo de alcançar o Flamengo, mas o sucesso do Sampa também diminui o crescimento do Corinthians, já no Rio e arredores.
O Flamengo, time de berço de cariocas, capixabas, cearenses, baianos fora da capital, potiguares, piauíenses, goianos, paraenses, amazonenses, fez a limpa
Vejamos uma cronologia desde o fim da década de 70.
78-79 - Tri Campeonato Carioca e recorde brasileiro de invencibilidade
80 - Campeão Brasileiro
81 - Carioca, Libertadores e Mundial. Pentacampeão da Taça Guanabara
82-82 - Tri Campeão Brasileiro
86 - Carioca
87 - Tetra-campeão Brasileiro
90 - Copa do Brasil
91 - Carioca
92 - Penta CampeãoBrasileiro
96 - Carioca invicto
99 - Carioca e Mercosul
200-2001 - Tricampeonato Carioca
2001 - Campeão dos Campeões
2004 - Carioca
2006 - Bi Campeão da Copa do Brasil
2006-2009 - Penta Tri carioca
2009 - Hexa Campeão Brasileiro
2011 - Campeão Carioca
Assim o Flamengo passa de 40% da população fluminense para 55% da população fluminense, isto num estado com 4 times grandes! O clube é um fenômeno que contrabalança o fator família (o mais importante na escolha do clube de coração) e que faz com que muitos pais não consigam fazer com que seus filhos torçam por outra equipe.
Como o Espírito Santo basicamente torce para times cariocas, o fenômeno é muito parecido, nas regiões norte e nordeste com predominância carioca, o resultado é ainda maior, simplesmente as outras equipes fluminenses praticamente desapareceram como times nacionais e o Flamengo é a segunda maior torcida do Ceará, a terceira maior da Bahia, a maior do Piauí e uma das maiores em todos os outros estados do nordeste, com exceção da Grande Recife.
Por isto somos uma nação.
De norte a sul, uma mesma religião, Flamengo