quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Balbúrdia das letras: Galatéia

Balbúrdia das letras: Galatéia: "O que posso dizer sobre ela, além de que era uma belíssima mulher madura, com cerca de 35 anos, alta, corpo escultural, pernas grossas e bem..."

Galatéia

O que posso dizer sobre ela, além de que era uma belíssima mulher madura, com cerca de 35 anos, alta, corpo escultural, pernas grossas e bem torneadas, branca, cabelos ruivos, olhos grandes, claros e vivos, face esculpida, belos seios, pescoço comprido, olhar altivo, porte de dama. Não, não só isto, era muito mais, cada parte do corpo parecia ter sido talhada por um artista grego em um momento de inspiração ditado por Afrodite, aquelas mulheres que parecem impossíveis, saídas de dentro de algum livro mitológico, beleza que não anda, desliza, flutua, de uma presença forte e silenciosa que chega a ser perturbadora pela inverissimilidade de suas formas.
Clareana, aos 35 anos, pode se dizer que era uma mulher realizada; profissionalmente estava no auge, tinha uma vida estável e relativamente feliz, bem casada, uma casa estruturada, sem muitos planos diferentes a realizar no futuro. Seus dias eram planejados e bem vividos, sua família e amigos a amavam, nada havia que a podia pertubar. Para mim ela era Galatéia, a perfeição esculpida em formas tais que fazia o artista pedir aos deuses que aquela estátua se transformasse em carne e verbo. Milênios depois da lenda o pedido de um Pigmaleão moderno se realizara, só que a bela dádiva dos deuses não pertencia a este Gepeto, e a linda boneca viva não correspondia aos anseios de seu artesão devoto.
Algumas coisas ninguém sabia desta musa, uma a de que, apesar de seu trabalho rígido e inflexível, tinha um fraco para poesia. Como toda musa amava seus poetas, Baudelaires, Nerudas, Vinícius, Joões Cabrais, Drummonds, passeavam musicalmente por suas mãos delicadas e a faziam se intricar no labirinto mítico da inspiração, sem saber que ela era em si a poesia encarnada. A música de cada verso estalava na pele graciosa dela, o andar ritmado dela, seu menear de cadeiras, seu pisar leve, tudo era um poema em forma de mulher, uma manhã de abril no céu azul do Rio, o ritmo leve das ondas beijando o Pão-de-Açúcar.
Outra coisa que poucos sabiam é que no fundo, Clareana não se realizava. A poesia que sobrava em seus livros faltava em sua vida. Sua estabilidade lhe era cara, mas faltava romance, ritmo, música, verso, delicadeza, fluxo, tudo que o casamento estável, mas monótono, não lhe dera. Chegara sim a ser apaixonada, era profunda demais para casar sem amor, mas a rosa não regada no jardim murcha sobre a ação dos raios do sol, e aquele companheiro sem encanto, que não valorizava a existência ao lado daquela mulher inteligente e escultural, acabara por matar o feitiço, a sedução; o que restara da paixão inicial fora a amizade e uma vida de respeito mútuo e companheirismo, pouco para uma mulher que além de ser profunda e poética, era sensual e quentissima. Sobre aquela plácida aparência de montanha, as larvas de um vulcão apenas em repouso ameaçavam em um momento entrarem em erupção.
Fui seu adorador, seu poeta reescultor. Sim, se não a pude esculpir e dar vida como Pigmaleão, fui seu devoto e adorador, recordando cada traço de memória e viajando em cada curva do corpo rubicundo e carnudo em sonhos acordados inconfessáveis. Um dia porém, realidade e ficação se misturaram, poesia e fato. A falta de encanto, de magia, de poesia, de paixão, de tesão chegaram a um limite de tensão em que o vulcão não mais pode ficar adormecido. Num pequeno toque de meus dedos naquele rosto suave e delicado, um suspiro que não era só de amizade trouxe a tona uma nova paixão que não era só a minha.
Galatéia acordava novamente, precisava novamente da paixão, precisava novamente ser amada, não bastava a ela apenas a estabilidade de uma vida sem romance. O toque suave no rosto dela, a mão dela segurando a minha em seu rosto, o beijo ardente e prolongado em que nos uníamos. Tudo parecia apenas sonho, um devaneio de minha mente de poeta, mas era real, por uma obra casual do destino eu havia sido escolhido para despertar o Vesúvio. As chamas, ainda pequenas, apenas começavam a crepitar, enquanto sentia aquela boca doce, de lábios finos, se entreabrir na minha e sugar minha língua para dentro da dela, me exigindo mais do que um simples beijo, ainda que o tempo prolongado daquele primeiro toque entre nossos lábios tenha se prolongado por vários beijinhos ardentes e picotados nas bocas sedentas um do outro.
Ela não podia ficar mais comigo naquele lugar público e me pediu que a levasse dali, para algum lugar discreto, em que pudesse dar vazão aquela repentina paixão. Era inacreditável, absurdamente inacreditável, impensável ser escolhido pela musa para cravar um soneto em sua pele. Em pouco tempo estávamos em meu quarto, eu e ela, sós, o mundo inteiro lá fora, e nossas bocas descobrindo-se, entregando-se, fartando-se de beijar, sugar e mordiscar um ao outro. Queria prolongar o tempo, para que não fosse só um instante breve, queria que ela não partisse de mim. Delicadamente comecei a beijar seu rosto, suas pálpebras e procurei aquele pescoço altivo, belíssimo, para beijar cada pedaço suavemente e fazê-la suspirar. Ela se oferecia calada e ofegante, sentia minha boca no seu pescoço e nuca, com uma mordida delicada senti o primeiro arrepio daquela deusa e uma tremenda vontade de abreviar aquilo tudo e possui-la de forma selvagem. Reisisti. Não podia ser breve, não podia ser rápido, não podia ser brutal e sem vagar. Por mais que meu sangue fervesse e parecesse que não ia resistir, comecei a despi-la suavemente e a beijar cada pedacinho daquele corpo maduro e perfeito. Balzac não teria uma personagem melhor para retratar, era o auge da beleza. Deitei-a na cama e comecei a percorrer seu corpo como se fora uma pequena formiga perdida em um monte de açúcar, lambendo cada parte para sentir o gosto, mordiscando os pedacinhos para sentir sua carne. Ela suspirava e se entregava. Com vagar, ia abrindo as portas de sua alma para me unir a ela.
Libertei os belos seios dela do sutiã que o envolvia, como senti inveja dele, o dia inteiro apalpando aquelas frutas delicadas. Um pequeno e delicado beijo em cada mamilo foi seguido de lambidinhas com a ponta da língua e depois por toda a auréola. Não suportando mais, suguei de maneira faminta os seios deliciosos e médios dela, ela suspirava e gemia e me puxava para cima dela. Mas eu resistia. Não a queria minha, senão quando ela me desejasse com todos os seus poros, com todos os seus sentidos. Fui descendo pelo vão dos seios até o ventre, beijando cada pedacinho, caminhando em sentido ao púbis, mas parando para brincar com sua cintura, mordiscar, sugar, fazendo-a soltar gritinhos e grunhidos. Não era mais uma mulher madura e estável, agora era a adolescente sapeca querendo brincar na cama comigo. Tentou se levantar, mas não deixei, Subi sobre seu corpo e e beijei longamente, nossos corpos se roçando inteiro e ela me desejando dentro dela. Não cedi. Voltei à escultura de minha galatéia, passeando a língua por cima de seu púbis e descendo até as coxas, sugando, mordendo, beijando, a deixando louca, passando delicadamente meu dedo polegar em seu clitóris e a sentindo inundada e louca de vontade. Quando ela pensou que sugaria sua frutinha, não satisfeito em torturá-la, a virei de costas, para chegar ao límite máximo dela, pois recomecei a beijá-la, de cima, da nuca, mordendo-a com força, como um cachorrinho e descendo minha língua pela linha de sua coluna, em direção a bundinha firme e arrebitada.
Ela já não aguentava mais e implorava por mim, me queria dentro dela, crepitava de tesão e o tesão descia como uma nascente por suas pernas. Isto mais me encorajava a torturá-la ainda um pouco mais. Descia pela linha de coluna até a bundinha. Passeei minha língua por ela, beijei e mordisquei cada polpinha. Ela me implorava, pedia, com uma linguagem vulgar:
- Me fode, querido, sou sua...
Eu queria ainda mais, afastei sua calcinha de lado, empinei a bundinha dela para mim e comecei a lamber sua xotinha por trás, fazendo com que ela se mexesse convulsivamente, tomada de desejo, senti que ela não iria agüentar muito tempo, então, para ajudá-la a gozar, introduzi levemente um dedinho na xotinha, enquanto a sugava, beijando, lambia com a língua, manuseava sua xaninha e seu grelinho com o dedo. Ela começou a gemer, gritar, xingar.
- Seu cachorro, seu puto, seu covarde, me fode.
Não obedeci, a queria seviciada ao extremo, a deixei então gozar com a minha boca e meu dedo, num gozo forte e louco, mas que não a satisfez. Clareana então despiu seu feitor de sua função, me derrubou na cama e subiu em mim. Tirou minha ropa de uma única vez, com muita pressa, libertou meu pau de um zás da minha cueca e começou a sugá-lo com fome e sofreguidão. Pensei que queria que eu gozasse em sua boca, tal a voracidade que me chupava, mas não era isto. Estava faminta, apenas o queria mais duro e grosso pois o desejava loucamente. Deitado, derrubado por aquela fêmea impressionante no cio. Senti quando largou a boca do meu pau e passou suas pernas por cima de mim, como uma amazonas. Então, de uma única vez, pois estava inundada, se sentou em cima dele e começou a cavalgá-lo intensamente, louca para gozar em cima da pica dura, grossa e latejante. Estava fora de si, o vulcão estava em plena erupção. Falava coisas desconexas.
- Me fode, eu quero, ai, quero todo ele dentro de mim, vou gozar, vem meu anjo, meu amor, meu puto.
Eu a acompanhava naquela prédica profana.
- Te amo, meu anjo, vem, te quero inteira, gostosa, sente meu pau, vai...
As frases foram sendo substituídas por gemidos e gritos indistintos, os dois foram aumentando o ritmo conjuntamente e comecei a liberar meu leite quente que a fez gozar loucamente. Ela explodiu juntinho, debruçada sobre mim e beijando a minha boca.
Tudo aquilo não podia ser verdade.
Ela se deitou a meu lado, mas apenas por alguns minutos. Olhou o relógio, estava na hora. Não podia ficar mais. Tinha sua vida real, além daquele momento de magia. Tomou um rápido banho, sem molhar os cabelos, e se aprontou rapidamente. Beijou-me a boca, me chamou de anjo, disse que me adorava e partiu.
Não sei bem ao certo se irá voltar. Ou se aquele foi o momento mágico, dádiva dos deuses que jamais se repetirá.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Balbúrdia das letras: A vitória sobre o nazi-fascismo

Balbúrdia das letras: A vitória sobre o nazi-fascismo: "

Saber que resistes.Que enquanto dormimos, comemos e traba..."

A vitória sobre o nazi-fascismo


Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado, sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes dá um enorme alento à alma desesperada e ao coração que duvida.
Carlos Drumond de Andrade in Carta a Stalingrado
Este ano a humanidade celebra os 40 anos da vitória sobre o Eixo Nazi-Facista, numa guerra que gerou o genocídio de 50 milhões de vidas. Faz pouco tempo vimos a comemoração da Invasão da Normandia, uma batalha que passou a ser designada como o “Dia D” da Segunda Grande Guerra e denominada de forma mentirosa pelos historiadores ocidentais como a mais importante batalha da luta contra os nazi-facistas. Como uma mentira dita mil vezes acaba por virar uma verdade, vamos relatar e recobrar historicidade da resistência soviética ao nazismo e mostrar a batalha de Stalingrado, o verdadeiro dia D e a maior batalha da 2ª Grande Guerra Mundial.
Antes de tudo é interessante mostrar que o regime nazista de Hitler nada tinha em comum com o Socialismo Soviético. Por mais que tenha havido terríveis erros na condução do Socialismo Russo, ele era o grande inimigo a ser batido, o país dos sovietes que tinha de ser banido do mapa, o inimigo principal da Alemanha Hitleriana. Desde a ascensão de Hitler ao poder que a União Soviética denunciava aos aliados (França, Inglaterra e Alemanha) o rearmamento alemão e os planos imperialistas expansionistas germânicos. Os aliados não só fingiam não ver a escalada guerreirista alemã, como exultavam com a possibilidade de uma guerra alemã à União Soviética.
Durante a Guerra Civil Espanhola, enquanto a Luftware alemã pode impunemente rasgar os céus franceses para bombardear os soldados e as cidades republicanas, o governo francês proibiu que o Exército Vermelho passasse pela França para combater do lado dos republicanos e dificultou sobremaneira o envio de armas pela União Soviétca aos resistentes da República assassinada. O resultado histórico disto todos já sabem, mas há um outro, a Alemanha nazista pode treinar táticas de guerra aérea impunemente com as benções de todas as potências “liberais e democráticas”.
Diante da imobilidade e da simpatia do Ocidente frente à Alemanha Nazista nasce o pacto de não agressão Germano-soviético. O pacto jamais foi um pacto de cooperação militar. A diplomacia dos dois países jactava-se de ter tido uma vitória política sobre o outro. Pelo lado alemão, Hitler achava que com o pacto poderia operar mais livremente a guerra contra o resto da Europa, pelo lado Soviético, Stálin acreditava que entrar em guerra contra a Alemanha naquele momento seria suicídio, e que era necessário um esforço concentrado de guerra para fazer frente ao inimigo. Ambos queriam ganhar tempo para um confronto que viria mais tarde. A história provaria quem estava correto. Na URSS o dia de trabalho que já era de 8 horas por dia em 1927 (é bom lembrar que no Brasil esta conquista data de 1988) foi estendido para 12 horas e indústrias inteiras foram mudadas para equipamentos bélicos para o esforço de guerra.
Houve um grande erro estratégico diante do pacto. Stálin considerou que a Alemanha Nazista só teria condições de invadir a URSS em 1943 e se descuidou de sua defesa na linha de frente(embora os soviéticos nunca tenham alimentado nenhuma ilusão de que não haveria luta contra o nazismo). Assim, quando a Alemanha invadiu a União Soviética em julho de 1941, em que pese todo o esforço industrial de guerra, parecia efetivamente que em meses a União Soviética deixaria de existir. De um total de 7.500 aviões, os soviéticos perderam 4 mil só na primeira semana. Considera-se que a URSS perdeu 80% da aviação e mais de 50% dos tanques nos dois primeiros meses do ataque alemão.
Até outubro os nazistas já haviam cercado Leningrado e estavam às portas de Moscou. Até novembro o saldo de destruição era inimaginável de um país poder resistir a ele: 670 mil soldados soviéticos capturados, destruídos 3200 tanques, 15.500 aeronaves (lembrem que a URSS só tinha 7.500 no início da guerra, ou seja, haviam sido dizimada duas vezes a força aérea russa), 57.600 veículos, 1.200 peças de artilharia e 1200 locomotivas.
O Mito do General Inverno:
Há um mito ocidental de que os russos só conseguiram derrotar os alemães por conta do “General Inverno”. É verdade que a chegada do pesado inverno atrasou a guerra alemã, mas os alemães não foram parados só pela neve, e não foram derrotados por ela. Foram derrotados inclusive no campo da tecnologia e da produção, pela capacidade da URSS se reorganizar em meio ao cataclisma e produzir aeronaves e tanques em tempo recorde, numa velocidade inimaginável. Campos inteiros eram queimados e indústrias eram desmontadas em dias e remontadas na retaguarda. O soldado soviético, vendo que o inimigo alemão assassinava impiedosamente até os civis passou a combater até a morte. Na retaguarda alemã uma incrível guerrilha começa a minar a força e o ânimo dos combatentes germânicos.
O frio fez estragos grandiosos no lado soviético. Sitiados em Leningrado, 1 milhão de pessoas morreram de fome e frio. Só que o Exército soviético estava TECNOLÓGICAMENTE MELHOR PREPARADO PARA O FRIO. Desde as vestimentas, até o tanque e o óleo. Enquanto o óleo dos aeromotores alemães congelava nos tanques e não os deixava decolar, a força aérea soviética, na mesma velocidade que perdia aviões, os fabricava, e conduzia missões consideradas impossíveis em pleno inverno.
Dos sucessos iniciais de 1941 e 1942, a Luftware alemã começou a ser batida no ar pela aviação russa em 1943, em maior número e, agora, desenvolvendo em plena guerra aviões tal ou mais velozes que os alemães, capazes de abater os antes inexpugnáveis inimigos aéreos.
No chão, as tropas panzers perderam sua superioridade. Se no início da guerra os panzers enfrentam os obsoletos B50 soviéticos, estes sendo destruídos na proporção de 2 por 1, agora enfrentavam os terríveis T34. Mais velozes, melhores blindados, melhor manobráveis no terreno difícil, com um alcance de tiro maior. Pela primeira vez durante a guerra os nazistas enfrentam um inimigo que tinha superioridade na batalha dos tanques. Isto afeta de maneira o ânimo alemão. Divisões inteiras são destruídas em batalhas de tanques descomunais onde os T34 precedem ao avanço das tropas russas.
Stalingrado, também estava cercada desde julho de 1942. Um monte de ruínas com soldados soviéticos escondidos praticamente nos entulhos e nos subterrâneos da cidade, era a última cidadela contra o avanço do Exército Alemão rumo ao Petróleo e o trigo dos campos soviéticos. 70% de toda a força militar do Eixo encontrava-se na URSS neste momento (incluindo suas tropas mais capazes). Hitler queria capturar Stalingrado e seguir rumo a leste, para se juntar aos japoneses que estavam prontos para invadir a Ìndia e rumo ao Sul para juntar as tropas de Rommel que combatia no oriente.
Numa resistência tenaz a cidade resiste 200 dias, cercada, com fome, muitas vezes com dificuldades de se abastecer de munições. Três exércitos alemães, dois romenos, um húngaro e um italiano cercam Stalingrado. A situação parecia pender para a Alemanha, mas, devido a grande resistência militar, ao grande esforço do povo soviético durante a guerra para suprir o exército vermelho e a superioridade tecnológica e bélica conseguida devido a isto, a cidade não só resiste, na batalha mais sangrenta da história, mas, incrivelmente, os soviéticos contra-atacam e aí começa o fim do nazi-facismo.
Os exércitos soviéticos conseguem com a ajuda da força aérea e dos T34 flanquear os exércitos romenos e cercam aproximadamente 300 mil soldados alemães em novembro de 1942. Os alemães ainda resistem dois meses, mas em 16/01/1943 o general Paulus entrega-se com o remanescente do seu exército. Na batalha de Stalingrado os soldados do Eixo haviam perdido cerca de 800 mil homens, o Exército Vermelho havia perdido 1 milhão e 100 mil (o exército americano, durante toda a guerra perdeu 300 mil).
Depois da derrota de Stalingrado a máquina bélica alemã foi completamente desbaratada, os soviéticos bateram as tropas alemãs até Berlim. Os aliados não invadiram a Normandia senão depois da vitória soviética em Stalingrado (embora Stálin clamasse por esta invasão fazia tempo) e a celeridade na invasão da Normandia se deveu principalmente ao medo de que URSS tomasse toda a Alemanha sozinha, já que efetivamente a Alemanha já estava militarmente irremediavelmente derrotada. Fica claro então que o verdadeiro dia D da Segunda Guerra foi a batalha de Stalingrado, que mesmo que não houvesse a invasão da Normandia os nazistas teriam sido vencidos sozinhos pelo Exército Vermelho que já havia derrotado o grosso das tropas alemães e as estava levando de volta para o Reichstag.
Embaixo, o relato de uma carta de um soldado soviético na luta sem rendição contra os nazi-facistas:
“Aqui está a carta de Alexandr Golikov, escrita em tanque alvejado por projétil inimigo. ‘Neste instante estamos em combate cruel, de vida ou morte. O nosso tanque foi danificado. Por todos os lados vejo soldados nazi-facistas. O dia todos estamos rechaçando o ataque. A rua está cheia de corpos em uniformes verdes. Ficamos com vida Pavel Abramov e eu. No tanque furado igual peneira e todo escangalhado. Não temos uma gota de água sequer. O tanque estremece com os golpes do inimigo, mas, por enquanto estamos com vida. Já não temos projéteis. A munição está se esgotando. Pável atira contra os inimigos com tiro certeiro, eu estou “conversando” com você, como sempre. A sua fotografia está em meus joelhos. Eu sei que é a última vez... Através das brechas no tanque eu vejo as árvores verdejantes, flores no jardim – de cores vivas, vivas. Vocês que sobreviveram à guerra, terão após a guerra uma vida tão linda, como essas flores e serão felizes. Por uma vida assim não temo a morte’. Carta milagrosamente encontrada num tanque onde estavam dois soviéticos mortos: após a morte do primeiro combatente, o segundo tomou seu lugar atirando. Quando a munição acabou ele tocou fogo no tanque.”
Mais de 20 milhões de soviéticos morreram na luta contra o nazi-facismo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Balbúrdia das letras: A Inquisição Vermelha

Balbúrdia das letras: A Inquisição Vermelha: "Giordano Bruno queimou na fogueira por, dentre outras coisas, acreditar que a terra gira em torno do sol; que o inferno não existe; por preg..."

A Inquisição Vermelha


Figura: Edgar Vasques para Ideias em Revista, revista do Sisejufe

Giordano Bruno queimou na fogueira por, dentre outras coisas, acreditar que a terra gira em torno do sol; que o inferno não existe; por pregar a tolerância, inclusive a religiosa entre os homens; a política laica, sem intervenção da religião, que passa a ser coisa privada; a universalização do ensino sem dogmas e sem monopólio do “saber” pelos eruditos. Isto não foi ontem, mas há mais de 400 anos. É comumente venerado pela esquerda, e sua tradição de pensamento tolerante e anti-obscurantista nos faz colocá-lo ao lado de uma tradição iluminista que irá desaguar, por fim, com a dialética materialista, em Marx.
Mas, porque evocar Bruno num texto com o enigmático título de a Inquisição Vermelha? Talvez para cobrar da esquerda uma posição mais coerente e para desfraldar sua bandeira como uma forma de resgatar a discussão sobre a tolerância, a secularização da política, o uso da razão em lugar da fé, a luta contra o dogmatismo, a luta contra o fanatismo, contra a meritocracia dos títulos acadêmicos que deixa o saber recluso para poucos... Não, não estou falando do Brasil no século XXI, mas da Veneza da Europa do fim do século XVI. Olhando para o Brasil de hoje, faz parecer muitas vezes que andamos recrudescendo para uma nova era das trevas, tal a intolerância e o obscurantismo das discussões, inclusive as políticas, mesmo entre a esquerda.
A esquerda tem de celebrar e recobrar o que há de mais generoso e progressista nela e não o que há de mais obscuro e irracional. Temos que aprender com nossos erros tanto quanto com nossos acertos. Temos que aprender com as lutas de libertação dos povos oprimidos e com as revoluções vitoriosas, mas temos que aprender também com os equívocos, como os gulags e os processos de Moscou, os execuções da “Revolução Cultural” chinesa, Pol Poit, a dinastia “socialista” da Coréia do Norte... Uma tradição falsamente “maquiavélica” (Maquiável nada tem que ver com isto) da esquerda, nos levou a tolerar atos de opressão desenfreada e de total obscurantismo numa lógica torta do “mal menor”, que de menor não tem nada, haja vista que a incorporação pela de esquerda de elementos estranhos e nocivos a seu pensamento nos faz perder a luta por corações e mentes, que se trava diariamente no mundo moderno, contra um inimigo sumamente poderoso, o capitalismo imperialista.
Uma tradição míope que faz determinadas correntes de esquerda apoiarem o fundamentalismo islâmico acreditando que a futura revolução socialista nascerá da Jihad e se calando contra a intolerância e a desvalorização da figura da mulher, que muitos destes movimentos, que são antiestadounidenses carregam. A lógica é perversa, é pervertida. E fica igualzinha á lógica do imperialismo norteestadounidense que defende os seus ditadores, quando lhes convém, e ataca a democracia quando não lhes é interessante. O caso mais ilustrativo é o do Talibã. Quando combatiam os soviéticos, ajudando o Talibã, um governo fundamentalista, de intolerância e obscurantismo, aí eram os queridinhos da CIA e os inimigos da esquerda. Quando passaram a inimigos dos EUA, teve muita gente da esquerda mandando e-mail saudando a resistência Talibã, mandando não, corrijo, tem muita gente que continua a defender.. Peraí, camaradas, resistência do que contra o que? Do imperialismo islâmico contra o imperialismo estadounidense? A causa em si sumiu. A secularização do ensino, a libertação das mulheres, a separação da religião e do Estado, que existiu no curto período de governo socialista afegão, a causa em si, pela qual vale a pena lutar, desaparece. Tudo se limita então se o governo X é contra ou a favor dos Estados Unidos. Tem gente da esquerda até hoje fazendo apologia de Saddan Hussein! O assassino de curdos e opositores, inclusive de esquerda. Na mesma ótica míope dos EUA. Quando Saddam era amigo dos Estados Unidos, era nosso inimigo, virou inimigo dos EUA, então valia à pena sua defesa. É lógico que se devia defender a ilegitimidade da invasão estadounidense no Iraque, e que o povo iraquiano decidisse seu próprio destino, sem a intervenção dos mariners. Mas desta posição a defender Saddam vai uma distância apocalíptica.
Sou completamente a favor da luta dos palestinos por uma terra sua, luta justa e anti-imperialista. Mas transformar esta luta, em que vários grupos dentro da Palestina se engalfinham entre si, numa luta socialista, é uma tremenda fraude histórica. Na luta contra o imperialismo israelita e contra o Estado de Israel (e não contra o povo israelense ou contra os judeus) há uma grande divisão de grupos e propósitos. Há desde grupos progressistas e com visões laicas, que defendem um território comum para palestinos e israelenses, até grupos que defendem a guerra santa contra os infiéis, os costumes medievalistas, o retorno a idade das trevas, o machismo como política de estado sancionado pela religião, a discriminação contra as mulheres falsamente calcados no corão. E não me venham acusar de ser anti-palestino ou não entender a diversidade cultural, que é o que mais comumente, aqueles que fazem a defesa do indefensável, argumentam para defender suas posições. Fundamentalismos tem de ser combatidos, sejam cristãos, muçulmanos, budistas ou de que religião for. Não há base crível em nenhum livro sagrado para o sexismo e a segregação das mulheres, ou para a intolerância religiosa. Mas efetivamente em alguns dos grupos que lutam contra Israel, a base teórica que os movimenta é uma esta perigosa salada citada Por uma falsa defesa da “diversidade cultural”, alguns intelectuais de esquerda não criticam as bandeiras destes movimentos porque devemos ter a “mente aberta” para o orientalismo. É algo absurdo, de maneira nenhuma o fato de movimentos reacionários serem anti-estadounidenses nos deve cegar para o fato de que estes movimentos são... REACIONÁRIOS! Se fossem vitoriosos nas lutas que travam não trariam felicidade para seus povos, trariam, como fizeram no Afeganistão, despotismo, tirania, crueldade e intolerância. Mas há grupos e partidos no Brasil que de maneira torpe fingem acreditar que movimentos com bandeiras de guerra religiosa podem garantir o FUTURO SOCIALISTA DA HUMANIDADE... Estranha dialética. Como falava o Barão de Itararé, de onde menos se espera é que não sai nada mesmo. Na Palestina se trava uma luta pela independência de um povo, e a única bandeira factível e justa é a de dois Estados e duas nações, laicas, para que judeus (que têm todo um histórico de serem perseguidos sim e não podem ser apagados como nação e como Estado – o que de outro lado não justifica a política de PROGROM DO ESTADO ISRAELENSE CONTRA OS PALESTINOS – e não do povo israelita, sempre separar para não cairmos no anti-semitismo) e palestinos, em estados seculares e livres, possam levar suas vidas sem guerra, para que as mulheres não sejam segregadas em nome de um Estado falsamente inspirado em princípios “divinos”.
Saindo desta questão factual, o que pretendo chamar atenção é para o caráter de seita (e daí o nome de sectários) que certos grupos políticos adquiriram no Brasil. Pretendem deter o monopólio do saber de esquerda. Eles é que conferem atestados e certificados de pureza “esquerdista”. Só podem ser considerados de esquerda, socialistas e, ou marxistas aqueles que rezam na sua cartilha ou são aliados, ainda que temporariamente. Assim, todos aqueles que fogem da “pureza” das suas concepções, estão relegados ao fogo do inferno não-marxista. São traidores, pelegos, governistas, direitistas, stalinistas, burocratas, revisionistas, e mais quantos termos podem inventar. Estas seitas de esquerda funcionam exatamente como determinadas seitas evangélicas. Vivem à parte do mundo, o mundo real não existe. Se a conjuntura não concorda com minha análise, dane-se a conjuntura, se o mundo não coincide com meu pensamento, dane-se o mundo. Com seus atestados de pureza marxistas concedidos apenas àqueles que rezam em suas bíblias, estas seitas gastam mais tempo atacando àqueles que foram excomungados de seus ritos (ou seja, a própria esquerda) do que preocupadas com a elite, com a direita, com a burguesia; com o mundo real. Só sabem fazer política na negação, até porque não conseguem construir nenhum projeto político sério. Se reduzem a difamar as outras correntes de esquerda e provar a seu próprio grupo de fiéis, que a sua igreja, do Perpétuo Marxismo dos Últimos dias, é a única que é inspirada pela divina trindade, Marx-Engels-Lenin, além do grande profeta, Trotsky, é claro. Gastam todo o tempo útil de militância patrulhando ideologicamente a esquerda que não foi bendita por seu evangelho e tentando destruir as organizações de esquerda construídas por década de militância, como a UNE e a CUT. Demonizam os movimentos reais de resistência latino-americana, como Chávez e Evo, se aliam e comemoram vitórias com o DEMO e os tucanos. É a esquerda tresloucada que a direita ama. E tem uma mentalidade protofacista que assusta. Agressivos e intolerantes, não toleram a discussão ou a democracia, esta só vale quando eles têm maioria. Quando são derrotados, na discussão ou no voto, tentam bagunçar os processos eleitorais e acusar de golpistas todos aqueles que os conseguem derrotar. Aliás, golpista é o termo mais tranquilo, em geral, todos os que lutam contra eles são canalhas, bandidos, vendidos à burguesia ou coisas do tipo. Do marxismo, só aprenderam os insultos, não a tolerância e a convivência respeitosa. Lêem pouco ou quase nada, e transformar o materialismo dialético, ciência e método, numa liturgia sagrada onde não cabe a dúvida e a inquirição. Escondem sua ignorância da luta real e dos desejos do povo numa meritocracia de diplomas de mestrado e doutorado que conferem uns aos outros em estudos importantíssimos do tipo: A pureza e a virgindade do marxismo de Lenin; As relações entre o sexo dos anjos e a discussão das seitas marxistas no pós-modernismo do século XXI. Tem medo da discussão real e do confronto com a realidade, por isto querem a universidade para poucos e pretendem se fechar em feudos, dizendo que massificar o ensino superior faz com que “caia a qualidade do ensino” (nisto fazem coro com a burguesia da Barra e do Morumbi!). De novo chamo Bruno em meu socorro, enquanto ele censurava o enclausuramento do ensino e a meritocracia, com o ensino das universidades poucas da época sendo destinado só aos doutos e pregava a abertura dos muros, nossos heróis das seitas dos Marxistas dos Últimos Dias são como os doutores da época da insquisição, que temem o povo na universidade, mas ainda assim se dizem de esquerda e pretendem falar em nome deste mesmo povo...
Vivem num mundo próprio, só se reproduzem com os que militam na mesma seita, estão longe do povo e de suas lutas reais. Por esta razão sobrevivem como quakers que cuidam da pureza de seus ritos e proibições, por isto nunca chegam a congregar nem 0,5% do eleitorado, mas, ainda assim, se jactam de suas próprias construções artificiais e de esperar a volta do Rei Dom Sebastião, quero dizer, Lênin, que em seu reluzente cavalo vermelho nos salvará a todos do diabo revisionista. São a esquerda que a direita ama e adora, a esquerda pela qual a direita reza todos os dias em suas preces, para que Deus os preserve deste jeito, mas como aliados dos conservadores, do que como lutadores do povo. Uma esquerda inquisitorial e intolerante, que afasta a qualquer um que queira sonhar com um mundo melhor e socialista.

sábado, 14 de agosto de 2010

A Feiticeira

Figura, Carlos Latuff para o livro Feitiços
Ela chegou num dia de tempestade. Enquanto as pessoas se trancavam em casa, encanadas num medo secular, trovões sacudiam as casas, de maneira que o rio passeava por entre as ruas e todos eram só pavor. Quando ela entrou na cidade, com seu vestido curto colado no corpo, deixava ver, na transparência encharcada o negror do bico dos seios e até o triângulo fogoso. Vinha calmamente caminhando pelo meio da rua, como se saísse da borrasca.
Como uma Iemanjá de ventos ela tocou a procela e o estio se fez, o sol apareceu, radiante, sacudindo um arco-íris no meio dos cabelos negros dela.
Nunca mais a cidade teve paz, dividida ao meio: os homens a amavam, a desejavam, queriam a carne dela; as mulheres a odiavam, se rasgavam com despeito.
Ela foi morar numa pequena casa alugada no centro do vilarejo. Vivia de vender divindades, colares e miçangas que fazia, ora de cristais que lhe acorriam quando caminhava nas matas em derredor, ora de conchas de não se sabe que mar, se em profundezas do interior ela tinha se afundado.
O padre a condenara. Jamais se confessara. O feitor dos pecados estava com o ouvido cheio de tantas mentiras. Nas confissões, homens que nunca a tocaram (e até algumas mulheres) mentiam, ou enlouqueciam, confundiam a realidade com o desejo atormentado e forte que sentiam, e teciam para o padre urdiduras de volúpias loucas, de três mil penetrações em mil buracos diferentes e línguas e braços.
Nunca ninguém, em verdade, na cidade a possuíra, embora quase todos a quisessem.
O coronel Torquemada tentou. Primeiro se fez de capitalista, propôs casamento, estava disposto a separar-se da esposa, ofereceu jóias (sempre recusadas). Suando por todas as suas banhas, mil vezes entrara, duas mil vezes saíra da casa da feiticeira, sempre enjeitado ao tentar seduzi-la. Ele não podia admitir, afinal, quando queria uma mulher era só apontar um dedo, e se fosse uma camponesa então, só derrubá-la e montá-la como um burro, ou outro animal. Este animal jurássico, por fim, se cansou de pedir o que, por direito seria dele. Iria numa noite à casa de Bela (este era o nome dela, sempre que lhe perguntavam, ela apenas dizia Bela, Bela de nada...) e tomaria à força, com ajuda dos seus capangas, do corpo dela, como melhor lhe aprouvesse. Propósitos adivinhados por ela em seus tarôs. No dia que ele marcara para a desforra, adormeceu durante o dia com uma preguiça incomum e foi morto, com água quente no ouvido, pela beata mulher, que enlouqueceu e até hoje corre pelos caminhos deste mundo, como se perseguida pelo demo em pessoa.
Depois tentou um playboy, comedor de meninas incautas, o gostosão da cidade. Todas as mulheres suspiravam por ele, por que ela não suspiraria? Perfumou-se, engravatou-se, poliu o carro, não se fez de rogado. Tentou de tudo e se apaixonou. E ficou bobo de amor, imprestável para as outras, sem nunca ter tocado em bela. De tanta tristeza morreu tuberculoso e todos na cidade vêem sua alma entristecida, vagueando pelas noites com um único nome na boca: Bela.
Um seminarista largou a batina, que já estava se incendiando em contato com o pênis, que ficou empedrecido de tanto desejo ao sentir o cheiro dela. Para não enlouquecer foi embora da cidade. Parou no primeiro bordel, comeu a cafetina, que se apaixonou, mas ficou ele tomado de um tesão tão grande que, quando não está dormindo, está fodendo, e, para isto ela teve que permitir que ele trepasse com todas as putas do bordel. Virou uma sensação na cidade e tem mulher que vem de longe para ver e experimentar, pois não há no mundo tesão igual. Entretanto, ele está sempre com um olhar tristonho e enjeitado, pois o cheiro de mar de Bela nunca lhe saiu das narinas.
Outros enlouqueceram na cidade, casais se separaram, velhos se suicidaram, planos mil para conquistá-la. Estuprá-la, também pensaram, mas era impossível, pois seus santos sempre lhe iluminavam o caminho e ela, com um feitiço, matava ou enlouquecia o infeliz.
Temida e poderosa, solitária, de peito fechado para o amor, encantada no seu espelho, fazia sexo consigo mesmo, rolando pela cama durante as noites, um espelho frente a outro, como se amasse infinitas Belas...
Um dia, depois de cinco anos, volta à cidade um simples rapaz que fora, a muito custo, estudar na capital. Voltou doutor, graças às economias da mãe e de seu próprio esforço sobre-humano em trabalhar em tudo que pudesse.
Logo que chegou foi avisado que jamais olhasse nos olhos de Bela, pois estaria enfeitiçado para sempre. Mas a desobediência era seu destino e este lhe sorriu quando um dia, ao ir pescar, encontrou com ela encantando peixes e colhendo-os no rio.
Ela o olhou, mas ele não se alterou. Continuou com seu olhar sombrio e tristonho, de quem não tem nada mais na vida que sua própria consciência e esta bem mais vale que ouro. E pensou consigo mesmo: Esta é a bruxa? Que mulher comum! E este pensamento surdo atordoou Bela que o adivinhara pela indiferença. Ele passou por ela, como se ela fosse mais uma das pedras do caminho, e, pela primeira vez, depois dos séculos que ela vivera, ela se perturbou com um homem.
Naquela noite não conseguiu fazer amor com os espelhos. Seus dedos não lhe davam prazer, senão dor. Seu sexo estava teso e ela se sentia rígida e irritada. Fez então um feitiço e atirou contra ele. Inútil, era um menino tão distraído, que o feitiço não deu conta dele, e foi acertar o vigário, que louco de amor, largou batina e ficou uma semana cantando serenatas, dia e noite à porta de Bela, escandalizando a cidade, até que ela entendesse o mal-feito e desfizesse o bruxedo.
Então ela se perfumou de mar e jasmim, colocou seu vestido mais simples e belo, alinhou os cabelos e foi à praça, onde sabia, o encontraria. Lá chegou, e ele distraído, como sempre. Tão ausente ele estava que ela teve que se sentar ao lado dele no banco para que ele a notasse. O cheiro dela entrava por seu nariz e ele não se perturbava. Não sabia como aquele homem podia não querer tocá-la. Pensou, talvez ele fosse gay e ia quase se levantando, quando ele falou um oi.
Ela se zangou. Como? Só oi! Pensava ela. Era impossível alguém imune a feitiços. Então ela fez uma coisa que seus quatro séculos de vida jamais pensaram em fazer, suas muitas cidades e andanças, tomou da boca deste doce menino e beijou, para que o encantasse. A cabeça de Bela viu espelhos se quebrarem no mesmo instante e os dois foram arrebatados por um tufão junto com a praça inteira. Ninguém mais na cidade teve notícias dos dois desaparecidos.
Na verdade ele era o prometido dela, coisa que o tarô, que tudo a ela avisara, disto jamais dissera, pois o amor é sempre um ladrão sem vergonha e imprevisível. Ao se tocarem, todos os segredos foram contados, seus corpos se consumiram em fogo e seus espíritos transformaram-se me estrelas loucas insones, posto que orbitam fazendo amor, em milhões de gozos escarlate por toda eternidade.

Um blogg

Bem, pessoal, criei meu blogg, para cá vou migrar todos os meus escritos e escrever textos novos. A partir de hoje, a cada dia, vou colocar um texto novo, assim, aqueles que querem seguir meus textos podem me visualizar aqui.
Acredito na internet como uma ferramenta de democratização da informação e divulgação de trabalhos de escritores sem oportunidades, como no meu caso