Por uma poesia impura.
De todos os manifestos sobre poesia que li, nenhum me impressionou mais do que "Por uma poesia impura de Pablo Neruda".
Há toda uma discussão sobre a poesia de Neruda. A crítica, em parte sempre foi cruel, por conta de nunca um poeta ser tão fiel e tão personagem de sua poesia.
Neruda, passageiro autobiográfico de seu próprio sonho.
E vem as acusações e o patrulhamento. Reducionista por ser comunista, "ortodoxo", preso aos cânones do realismo soviético.
E em tudo, mais ódio do que crítica.
Neruda conseguiu estar acima até de suas próprias definições.
Antropofágico, ele confirmou a ideia de que "o homem é aquilo que come". Devorou Baudelaire, Malarmé, Joyce, T. S. Eliot, Gôngora, Quevedo, Lorca, Gabriela Mistral, Rubem Dario, Martí, Apolinaire, Victor Hugo, Bécquer...
E todos eles estiveram com ele, todo o tempo, muito mais do que Marx, muito mais do que Lênin.
É claro que uma gota de sangue caiu em sua poesia e a manchou de vermelho para sempre.
Mas quem disse que isto reduziu sua poesia?
A poesia nerudiana teve a dimensão do onírico, foi surrealista antes do movimento surrealistas, e foi existencialista, niilista, escatológico, sensual, fúnebre, sensual, lírico, e a tudo isto juntou os mineiros do chile, a Guerra Civil Espanhola, a Segunda Grande Guerra, a resistência comunista e o movimento comunista internacional.
Sem nunca reduzir sua poesia a um folhetim ideológico.
Fiel a sua própria poesia impura, sua poesia foi tudo, Stalingrado, sinos, vinho, cebola, greve, revolução.
E este manifesto que eu gostaria de ter assinado, é este tipo de poesia palpitante e viva que eu defendo como herança.