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Artigo:
A crise civilizatória do capitalismo e a criação do homem novo
Roberto
Ponciano
O objetivo deste texto é contribuir na busca de alternativas
de Ruptura/Revolução no meio da crise civilizatória do
capitalismo. Não é um texto messiânico que aponta que a Revolução
está na esquina, mas é um texto que toma lado e diz que não há
processo de reforma possível que salve o capitalismo de sua
contradição insolúvel, que é criar cada vez e mais, um sistema de
mercado sem mercados, dada a contradição inerente ao próprio
sistema.
Estas contradições insolúveis levaram à humanidade a becos sem
saíde. Nenhum sistema sobreviveu a seu colapso de projeto
civilizatório, o que propomos neste texto é que o capitalismo já
chegou ao colapso de seu processo civilizatório, e hoje como sistema
é reprodutor da barbárie, aumentando cada vez e mais os déficits
ecológicos, tecnológico, de consumo, colocando como alternativa
para bilhões de seres humanos não incorporados ao sistema, como
“alternativa” a fome, a miséria, a barbárie, a guerra civil, o
terror de Estado, a repressão militar e policial.
Este artigo aborda a crise do capitalismo, mas também a crise
teórica vivida pela esquerda com a queda do Socialismo Real na
década dc 1990, e a necessária retomada do método marxista de
análise para criarmos a práxis (teoria + prática) necessária ao
enfrentamento dos desafios do século XXI de forma conjunta e
universal.
Só uma luta coordenada e universal da classe trabalhadora, dos
pobres, dos miseráveis, dos deserdados do sistema pode abrir
perspectiva de superação do modo de produção capitalista. De
outro lado sair do anonimato, dos movimentos “anonimous” e que
negam as formas articuladas e organizadas históricas dos
trabalhadores, como partidos políticos e sindicatos. Todos os
movimentos que negaram a organização terminaram sem projeto e sem
perspectiva.
Temos que retomar, renovando-as à altura do século XXI as
organizações trabalhadoras de massa para enfrentar o grande desafio
do tempo histórico e repetir como profecia, o adágio de Lênin: Sem
teoria revolucionária não há prática revolucionária, e sem
prática revolucionária não há revolução.
Para isto, para retomar a fecundidade e a validade do marxismo, vamos
tocar nos três eixos básicos da parte filosófica da teoria
desenvolvida pelo jovem Marx, Fetiche, Alienação e Reificação,
projetando a superação deste ciclo vicioso através da educação
dos cinco sentidos.
1.
Alienação:
Vamos reduzir a termo o nome Alienação/estranhamento, para que faça
sentido ao leitor menos preparado no marxismo: “estar alheio,
estranhamento a algo”. Para Marx, o processo de alienação ocorre
a partir do momento em que o homem, dominando a natureza, através da
força mecânica, muda o ritmo natural do trabalho. Há aqui uma
contradição (antinomia nos textos de Marx), ao mesmo tempo em que
ele fala de alienação, e tem de se estar alheio a algo, ele não
define uma essência anterior humana. Assim, ao mesmo tempo em que
ele diz que o homem está alienado de sua essência, ele não prevê
uma essência humana a-priorística.
A essência do homem é um constructo, um vir-a-ser
emancipatório, uma tarefa em construção, o que ele denominou, de a
“educação dos cinco sentidos”.
“O homem é um tripé para Gramsci: ele é a relação, antes de
tudo a sua relação consigo mesmo (existir antes de ser), sua
relação com a natureza (dada através da indústria e do trabalho),
sua relação com os outros homens (homo-faber/homo sapiens).
A alienação vai acontecer em cada um destes eixos, alienação com
relação à natureza, alienação com relação aos outros homens,
alienação com relação ao processo de trabalho e ao produto do
trabalho. O homem é alienado no modo de produção capitalistas,
porque ele é um capital carente de si mesmo, que se desgasta e se
perde no momento em que sua força de trabalho não está sendo
realizada.
Com o advento do capitalismo, em que a criação do valor toma todo o
tempo da sociedade, a alienação do homem no processo de trabalho se
torna inerente ao próprio ser humano, que não se realiza através
seu processo de trabalho, mas nos produtos criados por ele próprio.
Assim a sua relação primordial com a natureza, como homo faber, seu
processo de trabalho fica esvaziado, carente de sentido.
Marx relata como isto aconteceu no Manifesto do Partido Comunista: “A
burguesia, lá onde chegou à dominação, destruiu todas as relações
feudais, patriarcais, idílicas. Rasgou sem misericórdia todos os
variegados laços feudais que prendiam o homem aos seus superiores
naturais e não deixou outro laço entre homem e homem que não o do
interesse nu, o do insensível "pagamento a pronto". Afogou
o frêmito sagrado da exaltação pia, do entusiasmo cavalheiresco,
da melancolia pequeno-burguesa, na água gelada do cálculo egoísta.
Resolveu a dignidade pessoal no valor de troca, e no lugar das
inúmeras liberdades bem adquiridas e certificadas pôs a liberdade
única, sem escrúpulos, de comércio. Numa palavra, no lugar da
exploração encoberta com ilusões políticas e religiosas, pôs a
exploração seca, directa, despudorada, aberta.
A burguesia despiu da sua aparência sagrada todas as actividades até
aqui veneráveis e consideradas com pia reverência. Transformou o
médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência em
trabalhadores assalariados pagos por ela.
A burguesia arrancou à relação familiar o seu comovente véu
sentimental e reduziu-a a uma pura relação de dinheiro.” – Karl
Marx, Manifesto do Partido Comunista.
2.
Fetiche
Fetiche da
mercadoria é o fenômeno social e psicológico no qual as
mercadorias aparentam ter uma vontade independente de seus
produtores, é uma relação social entre pessoas mediatizada por
coisas. O resultado é a aparência de uma relação direta entre as
coisas e não entre as pessoas, por conta da alienação do homem no
processo de trabalho.
As pessoas
agem como se estivessem ao serviço das coisas, assim, as pessoas não
se realizam através do processo de trabalho, mas do resultado do
trabalho, ou seja, as mercadorias que podem comprar a partir do
salário recebido (também produto exterior ao trabalho).
É através
do valor pago ao trabalhador quantificado em coisas que serão
compradas depois, no caso da produção de mercadorias, a troca de
mercadorias é a única maneira na qual os diferentes produtores
isolados de mercadorias se relacionam entre si.
É o que
chamamos de reificação, o homem não se relaciona com seu trabalho
de forma prazerosa e satisfatória, mas como algo alheio, estranho a
ele, obtendo satisfação pelos produtos que consome posteriormente,
pela relação de consumo e não de trabalho produtivo, como algo
estranho ao seu fazer.
Então vem
o nome Fetiche (de Feitiço), de realização exterior da mercadoria
ao fazer próprio do homem (trabalho). O Fetiche é uma co-relação
necessária da Alienação na forma-valor capitalista.
3.
Conceito amplo de educação
Neste
artigo, como a emancipação passa pela educação dos cinco
sentidos, práxis revolucionária, trabalharemos um conceito amplo de
educação. Como diz Emir Sadder, na introdução do livro A Educação
para além do Capital, “A educação faz parte de nossa vida, do
momento que nascemos até a hora da nossa morte. Na verdade não
passa mais de 3 horas sem que o ser humano aprenda alguma coisa”. A
educação pode ser vista de duas formas, como introjeção,
inculcação de valores que mantém o status quo, função do qual a
escola formal é a maior responsável pela manutenção das coisas
como estão. A educação é censitária, já que, de acordo com a
classe do indivíduo a ele lhe é destinado uma educação “adequada’
para que ele cumpra sua “função social’. Assim, a educação
destinada às classes inferiores é feita para que se reproduza a
mão-de-obra de pouca especialização necessária a que esta classe
permaneça como está.
“A
doutrina materialista de que os seres humanos são produtos das
circunstâncias e da educação, [de que] seres humanos transformados
são, portanto, produtos de outras circunstâncias e de uma educação
mudada, esquece que as circunstâncias são transformadas
precisamente pelos seres humanos e que o educador tem ele próprio de
ser educado. Ela acaba, por isso, necessariamente, por separar a
sociedade em duas partes, uma das quais fica elevada acima da
sociedade”, Karl Marx, Teses sobre Feuerbach.
Assim, a
educação é o principal AIE (Aparelho Ideológico de Estado) no
sentido de adequar às pessoas as condições pré-existentes, sem
questionamentos ao estado vigente. Uma educação emancipadora só
pode ser vista como uma educação que atravesse os muros
escolares (embora esta visão emancipadora tenha que ser disputada
também na escola) e que rompa as dicotomias entre homo sapiens x
homo faber, fazer x planejar, trabalho manual x trabalho intelectual.
Uma educação da práxis, questionadora de todos os fazeres da sala
de aula e do mundo, dia-logizando o mundo, com uma visão de educação
que vá além dos muros da escola.
4.
Emancipação
Temos que
retomar o conceito de Emancipação de Marx. Emancipação não pode
ser algo de fora para dentro. Não é uma práxis messiânica, em que
um líder, ou um pequeno grupo de eleitos “educa uma massa”.
Emancipação ou é obra dos próprios trabalhadores ou simplesmente
não é possível. Marx foi inimigo de todas as teorias
conspiratórias ou de trabalho de minoria, o conceito de dentro para
fora é inegociável em sua teoria.
Hoje temos
partidos da “classe trabalhadora” sem classe trabalhadora em suas
fileiras. Vivendo mais do que ilusão de classe, vivendo uma
verdadeira esquizofrenia de classe, clamando por Revolução sem
conseguir sequer organizar-se minimamente dentro da dispersa classe
trabalhadora do século XXI. A teoria trabalhada assim se transforma
de método em fé messiânica atéia, na qual algum deus ex machina
operará o momento certo para a Revolução.
Sem as
mediações políticas necessárias para fazer com que as grandes
massas saíam do ostracismo político e virem militantes de uma nova
Verdade Revolucionária, a Revolução, de possibilidade, passa a
dogma sectário. Desta forma, a oposição absoluta entre Reforma x
Revolução, se mostra uma falsa dicotomia, quando as reformas
adotadas tornam grandes parcelas da classe trabalhadora ativas na
luta do Aparelho Ideológico de Estado. Isto não significa subsumir
a luta final, pela emancipação da forma valor e por enterrar o
capitalismo, mas sim entender, que não há espaços vazios e
políticas e a negativa em se lutar em cada mediação da luta do dia
a dia, só ajuda a quem conservar e tornar as massas alheias aos
processo mediatizados de dominação do Capital.
É
fundamental resgatar o conceito de Emancipação, de momento de
passagem da quantidade à qualidade, até para criticarmos idéias
de dominação da grande massa por minorias iluminadas ou líderes
carismáticos. Emancipação é processo coletivo, de auto-educação
e tem como objetivo resgatar a todos de uma única vez, lutando
contra todas as formas de opressão.
5.
Classe em si/Classe para nós
Classe
social não é um mero agrupamento de pessoas. Tem que ver com a
posição das pessoas com relação ao processo produtivo, à
organização dos meios de produção em determinada época histórica
mas condiciona todo o pertencimento de homens e mulheres. Não é
algo meramente acidental, faz parte do histórico de vida desde o
nascimento, interage na biodiversidade de cada um. Somos seres
bio-diversos, em nossas crenças, línguas, fazeres, culinárias,
cantares. Todavia, de todas as multiplicidades que nos formam,
efetivamente o pertencimento a uma determinada classe social é, em
última instância, o que determina e condiciona nosso papel social,
do nascimento até a morte.
Com a
derrota do chamado Socialismo Real, no fim do século XX (Derrota,
seja dito claramente e não fracasso, já que a escolha aqui não é
meramente de palavras, mas teórica, afinal o fato mais importante do
século XX foi a vitória da Revolução Russa) há uma desgarramento
com relação à política e uma perda da idéia de centralidade do
mundo do trabalho (que continua central, na realidade).
Enquanto a
luta dos trabalhadores esteve em fase ascendente, boa parte do
pertencer, do ser, passava por Sujeitos Políticos Coletivos como os
sindicatos e os partidos políticos de esquerda. A derrota do
Movimento Social consignada com a queda do Socialismo Real e o
chamado “Fim da História” da década perdida neo-liberal, década
de 90, foi de tal intensidade, desarticulou de tal maneira o
movimento social e de trabalhadores, que a ideologia neo-liberal de
fim das grandes narrativas, e de não-centralidade do mundo do
trabalho, passou a determinar o debate ideológico da humanidade.
Com o “Fim
do Fim da História”, a queda do Muro de Wall Street, o fracasso
real do receituário neo-liberal, começa a se criar as condições
para a reação ideológica a idéia da não-centralidade da grande
política.
Assim, se
pode compreender melhor a dicotomia entre classe em si e a classe
para nós. A humanidade continua a ser dividida entre duas grandes
classes, Burguesia x Proletariado, todavia o simples pertencer a uma
classe, “classe em si”, sem conhecimento das implicações deste
pertencimento (tomada de consciência, classe para nós), faz parte
do processo de alienação, das várias mediações sofisticadas
impostas pela classe dominante para manter intacto sua hegemonia no
século XXI: monopólio da grande mídia, indústria do
entretenimento e da criação do “novo”, discurso de diluição
das classes sociais, discurso de fim da história, discurso de não
existência de alternativas, etc. O discurso que retoma o fio da
meada revolucionária passa pela necessária distinça de classes
sociais e pela luta de classes como motor do projeto revolucionário.
6.
Práxis
Práxis e
a indissolúvel união entre teoria e prática. “Quando o
trabalhador chega ao mercado para vender sua força de trabalho, é
imensa a distância histórica que medeia entre sua condição e a do
homem primitivo com sua forma ainda instintiva de trabalho.
Pressupomos o trabalho sob forma exclusivamente humana. Uma aranha
executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera
mais de um arquiteto ao construir sua colméia. Mas o que distingue o
pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua
construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo
do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na
imaginação do trabalhador. Ele não transforma apenas o material
sobre o qual opera; ele imprime ao material o projeto que tinha
conscientemente em mira, o qual constitui a lei determinante do seu
modo de operar e ao qual tem de subordinar sua vontade. E essa
subordinação não é um ato fortuito. Além do esforço dos órgãos
que trabalham, é mister a vontade adequada que se manifesta através
da atenção durante todo o curso do trabalho. E isto é tanto mais
necessário quanto menos se sinta o trabalhador atraído pelo
conteúdo e pelo método de execução de sua tarefa, que lhe oferece
por isso menos possibilidade de fruir da aplicação das suas
próprias forças físicas e espirituais.” – Marx, O Capital.
Não
existe a prática cega. Não existe o trabalho “puramente
espiritual”. As dicotomias, as hierarquias, entre fazer e pensar,
executar e comandar, trabalho manual e trabalho intelectual são só
dimensões, mediações de uma forma peculiar de trabalho, o trabalho
assalariado.
Assim a
práxis faz parte da educação emancipa tória que visa superar a
separação entre teoria e prática, execução e comando. Como diria
Gramsci, a Dialética é a busca da superação entre a razão e
emoção.
7.
Socialismo x Totalitarismo
Uma das
faces da luta ideológica contra o socialismo foi associar socialismo
com “totalitarismo”, assim a emancipação entra num beco sem
saída. Afinal, liberalismo vira sinônimo de “liberdade” e
socialismo vira sinônimo de exceção.
Além do
evidente erro teórico de se confundir liberalismo econômico com
liberalismo político, quando há fartos exemplos políticos de
políticas neo-liberais e liberais econômicas garantidas por
governos autoritários e ditatoriais, há uma evidente tentativa de
falsificação teórica das idéias originárias socialistas, para
invalidá-las antes de debater.
Hannah
Arendt, uma das principais defensoras do liberalismo político (não
do liberalismo econômico) fracassou ao tentar comparar o marxismo
com o autoritarismo. Em uma obra propôs buscar em Marx as raízes de
certos aspectos do totalitarismo do Leste Europeu, ela propunha que
ao equiparar o homo faber ao homo sapiens, Marx teria dado a linha
teórico para todos os desvios autoritários existentes no
socialismo. O fato é que posteriormente Hannah Arendt nunca provou
isto, até porque a raiz do socialismo de Marx é emancipacionista e
o conceito de trabalho é praticamente grego, com aversão ao
trabalho compulsório e divisão do trabalho penoso entre toda a
sociedade, para que todos pudessem fluir igualmente dos prazeres do
mundo, educação dos cinco sentidos.
Como nosso
objetivo aqui não é analisar o socialismo realmente existente do
Leste Europeu, vale frisar que a separação que ela propõe entre
homo faber x homo sapiens, existe no jovem Marx entre work x labour,
trabalho compulsório (assalariado) e trabalho em geral (capaz de ser
gerador de prazer).
Assim, não
há na raiz teórica do socialismo, seja revolucionário (Marx), nem
no Social Democrata (Bernstein, Keynes) nada que justifique o
totalitarismo (Marx previa o fim do Estado) e efetivamente as
políticas tanto socialistas quanto comunistas são inclusives
compatíveis com o liberalismo político (não com o liberalismo
econômico), defesa das liberdades civis, combate ao machismo, ao
racismo, à homofobia, etc.
8.
Estado como invólucro
O estado
para Althusser, “rolha”, ele é o invólucro no qual se dá a
luta da sociedade civil. É importante entender este o que significa
esta “rolha estatal”. Significa que a luta mesmo não se dá
somente no aparelho de Estado. Mesmo a leitura de Marx muitas vezes é
feita de forma que localiza em lugar errado a luta. A luta é na
sociedade civil, o Estado é o órgão de coersão e coação de
classes sociais, que só se mostra em toda sua potência nos momentos
de crise (Badiou), mas que funciona de forma mais eficaz através do
“consenso”. Não entender “consenso” como uma espécie de paz
social absoluta de um Estado sem conflitos, mas como um momento em
que as lutas de classe dentro do Estado não chega a um nível de
organização e de conflito que levam a uma crise, ou resolvida com
um Golpe e uma Ditadura Militares, ou resolvida com uma Revolução.
Nos
momentos de “consenso democrático”, a luta se dá dentro dos
Aparelhos Ideológicos, assim denominados por Althusser, que deslocam
a luta do Aparelho Central para cada superestrutura (pensamento) em
que se dá o embate na sociedade civil. É nos AIEs (Althusser) que
ocorre a luta cotidiana pela hegemonia (GRAMSCI)
A idéia
“funcional” e ilusória de Estado entende o Estado Democrático
como forma suprema de funcionamento social, ancorada em três eixos,
a) Democracia representativa; b) Economia de mercado; c) liberalismo
político.
O consenso
ideológico que se disputa é que não há possibilidades além deste
aparelho que seria “perfeito”, assim, qualquer crítica que vá
para além de: (A) Democracia representativa X democracia substancial
com igualdade econômica e não só de direitos, direta, referendos,
plebiscitos, democracia direta; B) Economia de Mercado x Socialismo,
estatização, coletivização dos meios de produção; C)
Liberalismo político x Socialismo de tipo revolucionário ou social
democrata keynesiano;) estaria fadada de antemão ao fracasso, por
análises rasteiras que travam o debate, dando como retrocessos,
a-priori as mudanças. O socialismo fica igualado ao totalitarismo, a
igualdade econômica é tratada como ineficaz e a democracia direta
como utopia.
Se o
Estado em crise se defende das críticas com os ARE (Aparelhos
Repressivos de Estado), com a ditadura de cunho fascista, nas épocas
de “consenso”, tenta criar, através dos AIEs (Aparelhos
Ideológicos de Estado), principalmente pelo monopólio da mídia
através das elites dominantes, a idéia da total impossibilidade da
uma mudança substancial.
9)
Devir – Política como um campo aberto
Depois da
queda do muro de Wall Street, da espetacular quebra da bolsa de Nova
Iorque que transformou em pó meio trilhão de dólares, nem Fukuyama
afirma mais que a história acabou. Há uma concreta virada no
pensamento político, que ainda não reflete em uma hegemonia
política, mas ninguém afirma mais, como afirmava na década
perdida, a neo-liberal década de 90, que “a história acabou”,
nem mesmo Francis Fukuyama. Os Chicagos Boys, os grandes gurus da
liberdade de mercado viraram pessoas nefastas, milhões de
estadounidenses perderam suas casas, aposentadorias e empregos na
grande crise dos subprimes, e mesmo nos EUA o mercado sofreu
regulamentação, com a falência múltipla de gigantes como o
Citybank e a AEG. Tudo que é sólido desmorona no ar, a afirmação
profética de Marx no Manifesto Comunista, nunca foi tão atual.
A cabeça
pensa onde estão nossos pés. Enquanto a crise era apenas e tão
somente dos países vítimas do imperialismo capitalista, a mudança
parecia uma miragem distante. Mas a crise do Capital chegou, e para
ficar, nos países centrais do sistema. Países como Espanha e Itália
estão com taxas de desemprego próximas aos 50% entre os jovens e
com taxas assustadoras de suicídio, é o suicídio do futuro. Dentro
da lógica de reprodução ampliada da mais-valia não há saída. O
embate entre a busca da austeridade, cortando mais salários,
empregos, aposentadorias, investimentos governamentais e o reflexo
disto numa sociedade cada vez mais pobre e desesperada, faz com que
as perspectivas de uma ruptura e o retorno à crítica radical ao
capitalismo apareçam novamente no horizonte dos países centrais.
O tema da
ruptura e da emancipação está na agenda do chamado primeiro mundo,
o Capitalismo confessa explicitamente que não tem como garantir o
futuro da maioria da população rica da Europa e dos EUA e propõe
como solução uma cínica exclusão de “excedentes”, a vida das
pessoas se torna frios números.
Assim,
ainda que não traduzido em hegemonia política, vê-se o colapso da
ideologia neo-liberal como proposta civilizatória e o retorno das
propostas de emancipação e socialistas. Quando as propostas de
controle social ao Capital, primeiro passo da crítica radical ao
processo sócio metabólico capitalista volta a agenda, efetivamente
fica claro que o propalado fim da história foi um canto de sereia
passageiro, que a história é um campo em aberto e que será
decidido por trabalhadores, empregados ou destituídos dos seus
trabalhos, em todos os países, nos próximos anos. A crise é uma
janela de oportunidades também para os trabalhadores se
re-organizarem e levantarem as bandeiras anti-neo-liberais,
anti-desregulamentação do trabalho, ambas anti-capitalistas por
essência.
10)
Luta de Classes x Aparente consenso do Sistema
Dentro
deste contexto de quebra de consenso, de fim de hegemonia do
pensamento neo-liberal, a boa e velha luta de classes volta ao Centro
da Agenda. Necessário no campo ideológico reafirmar A CENTRALIDADE
DO TRABALHO. Mudou a forma de ocupação, o setor terciário avançou
com relação ao setor antes chamado de produtivo, o fabril, mas
efetivamente, a proletarização de largas camadas da população
avançou em lugar de retroceder.
A
pulverização do trabalho no toyotismo pós fordista, com a
automação e a robotização dificultou a organização dos
trabalhadores, a sindicalização, a organização nos locais de
trabalho. Mas o trabalho não deixou de ser central, os trabalhadores
proletários, que necessitam vender seu trabalho para viver, não
diminuíram de tamanho na dinâmica de classes, pelo contrário, a
proletarização, se tomou formas mais ocultas e sofisticadas, com a
desregulamentação do trabalho, se tornou hegemônica, com grandes
contingentes da classe média indo parar em setores informais,
terceirizados ou desregulamentados do trabalho.
Mesmo no
Brasil, onde parte do proletariado que vivia em condições
sub-proletárias saiu das chamadas camadas D e E da população para
a camada C de renda, é um equívoco chamar este proletariado
emergente de nova classe média. A Classe Média teórica,
tradicional, são aquelas camadas de pequenos proletários, setores
de Administração do Capitalismo de renda acima da média
proletária, é bastante diferente daquilo que se convencionou chamar
“nova classe média’. Na verdade, chamar estes setores
subproletários, que chegam ao trabalho informa de carteira assinada
e se proletarizam, de classe média é crasso erro teórico e tem
objetivo não-acadêmico. Teoricamente colocar estes setores que
tiveram uma pequena ascensão social na classe que no embate entre
burguesia e proletariado tende a apoiar o status quo e só simpatiza
com o proletariado em momentos de crise, em que está em vias de se
proletarizar.
Na
verdade, a maior parte deste proletariado (cujo emprego em boa parte
se encontra no setor de serviços, mas sua remuneração e sua
posição na dinâmica da produção não os coloca em situação de
Administradores do Capital) é de difícil organização sindical e
tem problemas centrais na sua identificação no mundo de trabalho,
por conta mesmo do tipo de serviço que executam. Mas são para todos
os fins de organização de seu trabalho e remuneração,
proletários, ainda que haja a dicotomia entre a classe em si, a que
pertencem, e a classe para nós, em que conscientemente se organizam.
Todavia,
tanto as camadas médias empurradas para empregos proletários,
quanto as camadas subproletárias que ascenderam de vida em condições
destoantes da nova ordem mundial como no Brasil, não estão fora da
dinâmica da luta de classes, pela manutenção de seus empregos,
pela regulamentação progressista deles e pela conseqüente
conquista de novos direitos.
Ao
contrário das teorias que entoam muito precocemente o fim das
classes sociais, criando espectros como “multidão” (Negri), a
luta de classes apenas se transformou, ganhou novas formas
desafiadoras, mas a sociedade continua dividida em duas grandes
classes sociais, Burguesia x Proletariado, e a Luta de Classes voltou
à centralidade com a grave crise econômica no centro do sistema
capitalista.
11) A
indústria dos Direitos Humanos e das ONGs de ajuda, uma falsa
panacéia
Dentro
desta luta pela centralidade da Luta de Classes e da emancipação
dos trabalhadores, é fundamental criticar uma certa forma de ver os
direitos humanos, uma verdadeira indústria dos direitos humanos, e
uma determinada indústria da “ética”. Começando pelos direitos
humanos. Muitas pessoas se assustam com a “crítica aos direitos
humanos”, pensando, lugar-comum, ser a crítica homofóbica,
racista, etnocêntrica de direita. Não é esta a crítica que
fazemos, é a crítica cujas pistas estão em Alain Badiou. A
“indústria dos Direitos Humanos’.
Os mesmos
países brancos de olhos azuis, que vendem as minas e as
metralhadoras, são os que faturam com ONGs de desarmamento e de
retirada de minas. Ganham nas duas pontas do processo. Por mais que
saibamos que há ONGs sérias, cujo trabalho objetiva o resgaste das
vítimas do processo desumano do imperialismo, temos que criticar a
indústria da ajuda, que faz desaparecer o responsável principal
pelo processo de desrespeito aos direitos humanos, O IMPERIALISMO DOS
PAÍSES CAPITALISTAS CENTRAIS.
Os mesmos
países que enviam os médicos sem-fronteiras são os países que
ganham trilhões de dólares com patentes pirateadas de produtos da
flora e fauna do terceiro mundo. Os mesmos países que fazem
concertos de ajudas às vítimas das guerras e das fomes são os
países que produzem a guerra e a fome no terceiro mundo. A indústria
dos direitos humanos e das ONGs precisa de vítimas bestializadas
cuja consciência pesada ocidental possa ajudar. Neste processo de
“auto-ajuda” somem os processos criminais conduzidos pelos países
capitalistas centrais, que reaparecem nos processos como condutores
de ONGs civilizadas capazes de salvar os famintos habitantes do sul.
Esta falsa
“alteridade” também se reproduz de país a pais do terceiro
mundo, fazendo com que desapareça as críticas aos processos de
exclusão e empobrecimento, que as soluções centrais de mudança
sistêmica sejam esquecidas e milhões de ONGs capazes de produzir a
“salvação das crianças” através da música, do atletismo, do
futebol, se tornem uma falsa alternativa, já que todo este processo
de salvação de uns poucos não passa de um constante processo de
enxugar gelo.
Direitos
humanos verdadeiros só existiram com Democracia Substantiva, com
igualdade social real, emancipando as pessoas da pobreza. Ajudar
pobres que se manterão na pobreza não resolve efetivamente a
questão da dignidade humana.
É
importante que tenhamos esta visão central, de grande narrativa em
mente, em lugar das pequenas falsas soluções locais, que não
resolvem definitivamente nada, se não quisermos eternizar a
indústria da ajuda e da caridade.
12)
Ética individual x Ética Coletiva
A outra
parte que cabe criticar é a histeria pseudo-ética que grassou com a
derrota do chamado socialismo real no fim do século XX. Com a perda
da centralidade do trabalho e do referenciamento na luta sindical e
nos partidos de esquerda, houve um vácuo político. Para a geração
que viveu seus dilemas nas décadas de 60 e 70, havia uma
centralidade da política e do trabalho; a perda desta centralidade
levou a hegemonia da idéia pós-moderna de que não havia uma luta
central, ou uma tarefa de emancipação conujunta, a luta passou a
ser parcial em cada segmento e foi perdendo a nuance de luta política
para um nuance “ético”. É o que denomino de embriaguez ética,
já que em cada setor destas lutas parciais por inserção de
segmentos dentro do capitalismo, seja o segmento de negros, índios,
mulheres trabalhadoras, movimento sócio-ambiental, perdeu-se a idéia
de processo, de conjunto e de sistema.
Foi
bastante interessante para o sistema que em lugar de enfrentar a luta
organizada e centralizada por emancipação, passou a tratar
cada questão pontualmente, com soluções parciais, que ciclicamente
não solucionam nada.
Efetivamente
não questionamos a importância de nenhum destes movimentos:
Movimento negro, de reforma agrária, de mulheres, LGBTT, ecológico.
Todavia, ao não estarem concatenados, a não terem uma proposta
sistêmica de enfrentamento do problema central, de substituição do
processo civilizatório excludente do capitalismo, pelo processo
civilizatório includente do capitalismo, não conseguem transformar
as vitórias parciais em vitórias estratégicas na luta pela
emancipação, e vêem muitas vezes suas conquistas serem ou
assimiladas pelo sistema, ou mesmo perdidas por qualquer retrocesso
que as forças reacionárias consigam impor, por conta da falta de
uma estratégia global.
Não é
possível uma ética global no capitalismo, a “embriaguez ética”
que perpassa estes movimentos e até as empresas que criaram
movimentos de “ética empresarial” (apenas para cuidar das suas
imagens, a única ética destas empresas é o lucro), a única ética
global possível no capitalismo é uma ética emancipatória, a se
realizar no Devir, em outro processo emancipatório que rompa de uma
vez para sempre todos os processos de exclusão global.
13)
Reforma x Revolução Social
Uma outra
falsa dicotomia a ser atacada é a dicotomia entre Reforma x
Revolução Social. Porque dizemos que é uma falsa dicotomia?
Porque, da mesma forma que parte do movimento social ficou doente de
particularismo e com isto viu suas plataformas e projetos andarem de
forma circular, parte da esquerda, filha também da Revolução de
Outubro de 1917, criou uma espécie de messianismo vermelho.
Analisando
primeiro o fracasso das alternativas do “outro mundo é possível”,
que começa nas primeiras manifestações de rua de Seatlle, só
reforça a necessidade de uma proposta de resposta global e sistêmica
à crise civilizatória do Capital. Os protestos que começaram em
Seatlle, rodaram o mundo, baseadas na idéia de concatenações de
várias lutas do mundo, sem uma luta Central e resultou no Fórum
Social Mundial, foram perdendo a força e a capilaridade, no momento
em que as lutas políticas do Terceiro Mundo, começando pela América
Latina, tomaram espaço Central na agenda.
Do momento
dos primeiros enfrentamentos estatais de países de Terceiro Mundo
com o Imperialismo, os movimentos que juntavam várias manifestações
sem um eixo central e se negavam a dizer (como disse Chávez no Fórum
Social Mundial em 2004, “que o outro mundo possível é o Mundo
Socialista”) propositivamente que este outro mundo é um mundo sem
capitalismo, foram substituídos na agenda dos povos pelas lutas por
inserção de milhões e milhões de pessoas sem direitos que
passaram a ter em Governos anti-imperialistas esperança de inserção
dentro do trabalho formal e dos direitos a eles inerentes. O
movimento que ainda existe nominalmente, foi implodido no Terceiro
Mundo e está sendo implodido agora nos países centrais, quando a
agenda necessariamente anti-capitalista necessita de um eixo Central.
De outro
lado, uma certa esquerda sectária, que na visão de uma dicotomia
absoluta entre Reforma e Revolução, ficou órfã de qualquer
estratégia e projeto e condena qualquer tentativa de projeto
político, à espera de uma revolução para qual não contribui,
como adventistas do sétimo a espera do arrebatamento que será feito
por Lênin, para os crentes vermelhos ao céu socialista.
A
dicotomia entre Reforma x Revolução, na discussão da Segunda
Internacional, que dividiu socialistas entre chauvinistas e
internacionalistas, partidários da Guerra Imperialista x Partidários
da Revolução, faz todo o sentido no século XX, no limiar da
Primeira Guerra Mundial. No momento de reconstituição das forças
progressistas, em que se juntam forças e se busca uma estratégia
global para enfrentar a hegemonia neo-liberal, é um debate
escolástico, haja vista, que a possibilidade de reformas que retomem
a centralidade do trabalho, traz de volta para a arena histórica
milhões de trabalhadores que hoje apenas sobrevivem, não vivem.
Não é de
forma nenhuma negar a necessidade de uma solução global definitiva,
é entender, que ao contrário do início do século XX, quando
estávamos na ante-sala da Revolução Russa (vitoriosa) e da
Revolução Alemã (derrotada e que levou ao isolamento da Revolução
Russa, explicando na prática muito dos problemas posteriores), neste
momento do século XXI estamos reorganizando as forças dos
trabalhadores e a tarefa global de organizar os trabalhadores para
resistir ao ataque de retirada de direitos é a única capaz de unir
trabalhadores de todos os matizes. Assim, a luta anti-neoliberal é o
primeiro passo de qualquer futura luta anti-capitalista.
14)
Ética do Valor, Sociedade do Mercado sem Mercados.
Na
sociedade do valor, tudo é mercadoria, os valores são tangíveis em
número. Numa sociedade que alardeia a embriguez ética, tudo se
subsume a números. A literatura, a música, as artes plásticas. A
“qualidade” dos artistas é medida pela quantidade de produtos
que eles vendem e toda a crítica fica restrita aos conceitos de
“velho” e “novo”, os únicos conceitos compatíveis com a
indústria de consumo. Na sociedade da forma Valor, inclusive o que é
“velho” e o que é “novo” são produzidos pela própria
indústrida cultural, da novidade; a arte ou é entretenimento, pão
e circo, seja no cinema, música ou mesmo nos livros (Best Sellers),
ou formas de entesouramento e gastos de luxo, supérfluos, no caso
das artes plásticas. Deve se dissecar e retirar das artes todo o
apelo humano e crítico. As artes devem ser ascépticas e ou
divertidas, para consumo e esquecimento, para que o mundo seja
difuso, caótico e sem sentido.
Assim,
todos os conceitos críticos devem ser tratados como sem valia: local
x universal; forma x conteúdo; identidade cultural x influências
externas; talento x habilidade técnica; NENHUMA DISCUSSÃO CRÍTICA
É BEM-VINDA. A crítica se torna um serviço da indústria cultura e
serve como merchandising para vender e revender os produtos criados a
todo o momento.
A
sociedade do valor coloca no mercado homens e outros objetos. Assim,
a arte tem de se tornar produto fungível, e não ato humano
transformador e transcedente, os artistas valem pelo que vendem, não
pelo que são. A filosofia não pode ter objeto global ou objeto
humano, deve girar em falso especializada epistemologias internas
entendíveis somente aos iniciados.
A
Sociedade de Mercado sem Mercados, que gira em falso, porque sem
emprego não gera salário, e sem salário não gera consumo, sem
consumo humano o mercado é um mercado sem mercados; não pode, DE
MANEIRA NENHUMA, dar elementos críticos para seu entendimento e
superação, EMANCIPAÇÃO. Toda sua ética, filosofia, arte, tem que
ser pulverizada, caótica, sem sentido. A medida do valor único é o
“sucesso”, fato fungível e superável que sempre se mede também
em bens do mercado. A sociedade da Forma Valor, a Sociedade do
Mercado tem de ager nas super-estruturas de pensamento com os
burrinhos das carroças que correm atrás das cenouras amarradas, e
que por mais que se movam, a cenoura sempre está um passo á frente
deles. Mas, ao contrário da Utopia que serve para fazer o caminhante
caminhar mais para frente com um propósito, na cenoura da sociedade
da Forma Valor, nosso burrinho gira atrás do próprio rabo, tangido
pela mão invisível do Capital.
Assim, a
ética tem de ser uma embriaguez e uma ilusão; e se subsumir a
pequenos detalhes de comportamento, pode e deves fazer apolíticos e
individuais; a filosofia é escrita sem verdade; a arte sem
humanidade e sentido; a crítica a todas as superestruturas da Forma
Valor capitalista. Alguns teóricos, a-prioristicamente atados, se
submetem à falência da Razão e ajudam a forma este consenso,
abrindo mão de quaisquer explicação racional do mundo, de qualquer
grande narrativa, de qualquer cosmogonia. Sem a arma da crítica
visceral a todas as formas que impõe o consenso neo-liberal
capitalista, não é possível se montar as estruturas de
resistências e de construção da contra-cultura.
20)
Internalização, conformidade, consenso
Na batalha
por corações e mentes, na luta por uma sociedade, estamos no meio
do caminho, quando entendemos as diversas formas de internalização,
introjeção, que criam a conformidade com a ordem vigente. Mostramos
como na idéia da embriaguez de uma ética individual de um pseudo
bom mocismo, se esconde a falta de um projeto coletivo; e como todas
as superestruturas de pensamento, filosofia, arte, ciências, tem que
seguir numa linha irracional, partida, especializada e sem nenhuma
crítica sistêmica. Arte do entretenimento e fungível; artes
plásticas como entesouramento; filosofia como pura epistemologia de
si mesma; ciência como especialidades estanques; embriaguez ética
como lugares-comuns, juízos de conformidade sem nenhuma crítica
radical ao processo civilizatório; tudo forma um todo caótico e sem
sentido, que reforça a idéia de uma mão invisível, e de que a
falta de planejamento e de lógica de um sistema que desregulado se
torna uma tragédia para bilhões, e no fim das constas a única
lógica possível.
Nos
aparelhos ideológicos de Estado, todos hegemonizados pela alta
burguesia, principalmente através do monopólio midiático, há a
necessidade de se transformar o caos em algo normal, aceitável e
mesmo desejável. Tudo deve gerar aceitação, conformidade,
consenso. A única linha de resistência possível, a das ações
isoladas, do estilo ONGs e trabalho voluntário, não apresentam-se
como dissenso, mas sim como formas de se apurar e corrigir os
“desvios” e manter o “consenso’. Todos que se posicionem fora
destas lógicas devem ser ridicularizados como dinossauros da
história e gente que se recusa a aceitar o que foi dado por algum
deus ex machina para todo o sempre. Como pensamos onde pisamos, estes
consensos começam a ter fissuras. A grande crise civilizatória do
capitalismo mostra que efetivamente estes consensos são mais frágeis
do que parecem à primeira vista.
Mesmo a
idéia do sucesso como acúmulo de bens, cria ídolos tão fúteis
como tangíveis, e a resistência cultural, científica, estética,
filosófica, a resistência na economia política; no meio da maior
crise do capitalismo desde o crash de 1929, abre espaço para as
inovações teóricas que são as armas que os povos, homens e
mulheres poderão usar como grande narrativa para criar o dissenso, a
grande cultura, o movimento anti-conformismo.
Em cada espaço das superestruturas e dos aparelhos ideológicos se pode, com criatividade, criar-se a cultura do dissenso, do inconformismo e da emancipação; no momento de crise do processo civilizatório, a inventividade de poetas, músicos, filósofos, cientistas sociais em geral, pode e deve estar a serviço de criar, cotidianamente as armas múltiplas para a práxis do dissenso, da Emancipação, do vir-a-ser, do Devir.
Em cada espaço das superestruturas e dos aparelhos ideológicos se pode, com criatividade, criar-se a cultura do dissenso, do inconformismo e da emancipação; no momento de crise do processo civilizatório, a inventividade de poetas, músicos, filósofos, cientistas sociais em geral, pode e deve estar a serviço de criar, cotidianamente as armas múltiplas para a práxis do dissenso, da Emancipação, do vir-a-ser, do Devir.
21)
Educação dos Cinco Sentidos
A educação
dos cinco sentidos é a ética de homem novo, capaz de fazer frente à
tarefa histórica atual de termos uma ideologia capaz de frear a
submersão do homem a uma Alienação cega e brutal que se dá no
processo totalitário da fábrica e do Estado, da ideologia
consumista mais voraz, que torna os homens escravos de seus próprios
produtos, na nossa sociedade na qual tudo está eclipsado na
forma-valor.
A ética
saindo da pura abstração, do puro criticar o mundo, e se tornando
mais que uma arma crítica, mas a crítica das armas apontadas contra
a sociedade vigente. Como filósofos temos que sair da teoria pura e
pensar numa política de emancipação, tendo como missão
revolucionar o mundo, para além da simples crítica teórica,
transformando a teoria em ação (Revolução). Isto vai de encontro
ao niilismo filosófico pós-moderno negador de qualquer ontologia e
da subjetividade, e também vai contra o relativismo moral de nosso
tempo. Também vai de encontro aos teóricos marxinianos que negam
humanismo ou ontologia em Marx, que reduzem o marxismo a uma simples
economicismo utilitarista.
Os textos
do jovem Marx como os Manuscritos Econômicos Filosóficos e a
Ideologia Alemã, mostram um Marx herdeiro do humanismo racionalista,
prenhe de racionalidade hegeliana, com uma tarefa de Prometeu de
levar o fogo aos homens. Segundo Marx, os homens viveram até agora a
pré-história da humanidade, a libertação da sociedade da
necessidade cega, levará o homem a uma nova era, onde as realizações
por vir eclipsarão a sociedade da necessidade, como toda a história
anterior tendo sido apenas a pré-história da humanidade, como na
Contribuição à crítica da economia política:
"O
resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de
guia para meus estudos, pode formular-se, resumidamente, assim: na
produção social da própria existência, os homens entram em
relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade;
estas relações de produção correspondem a um grau determinado de
desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A totalidade
dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da
sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura
jurídica e política e à qual correspondem formas sociais
determinadas de consciência. O modo de produção da vida material
condiciona o processo de vida social, política e intelectual. Não é
a consciência dos homens que determina o seu ser; ao contrário, é
o seu ser social que determina a sua consciência .”
Como já
referenciado nos parágrafos anteriores, na trajetória dos estudos
de Marx, ele vai hipertrofiar a base econômica como responsável em
última instância pelo pensamento social. Assim, o pensamento vai
ser para ele reflexo, ideologia, das intrincadas relações sociais
materiais concretas da sociedade capitalista, superestrutura da
infra-estrutura concreta material, sendo que o pensamento dominante
de uma sociedade cindida em classes será o pensamento da classe
dominante; tal superação se dá no viés ainda ortodoxo da
Revolução Socialista emancipatória da estrutura material, que
supera o atual processo sócio-metabólico.
Já em
Marx, na mesma Contribuição à Crítica à Economia Política, em
seu prefácio:
Em
certa etapa de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais
da sociedade entram em contradição com as relações de produção
existentes, ou, o que não é mais que sua expressão jurídica, com
as relações de propriedade no seio das quais elas se haviam
desenvolvido até então. De formas evolutivas das forças produtivas
que eram, essas relações convertem-se em entraves. Abre-se, então,
uma época de revolução social. A transformação que se produziu
na base econômica transtorna mais ou menos lenta ou rapidamente toda
a colossal superestrutura. Quando se consideram tais transformações,
convém distinguir sempre a transformação material das condições
econômicas de produção - que podem ser verificadas fielmente com a
ajuda das ciências físicas e naturais - e as formas jurídicas,
políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as
formas ideológicas sob as quais os homens adquirem consciência
desse conflito e o levam até ao fim. Do mesmo modo que não se julga
o indivíduo pela idéia que faz de si mesmo, tampouco se pode julgar
tal época de transformação pela consciência que ela tem de si
mesma. É preciso, ao contrário, explicar esta consciência pelas
contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as
forças produtivas sociais e as relações de produção. Uma
sociedade jamais desaparece antes que estejam desenvolvidas todas as
forças produtivas que possa conter, e as relações de produção
novas e superiores não tomam jamais seu lugar antes que as condições
materiais de existência dessas relações tenham sido incubadas no
próprio seio da velha sociedade.
Estacontradição
entre as forças produtivas (aí estruturadas inclusive na forma como
os homens se organizam e pensam) e os meios de produção, em que a
superestrutura da classe em si se transforma na classe em si, levam a
uma nova forma de produção e de construção da sociedade que
trazem em gérmen em uma nova ética, que se traduz na educação dos
cinco sentidos para a criação do novo homem. Ética que só pode
ser do Devir, porque na estrutura de Fetiche e estranhamento não há
espaço para a construção deste mundo novo.
Com as
Teses sobre Feuerbach se produz uma verdadeira inversão da visão
filosófica marxista. O aspecto ativo é privilegiado em relação à
abstração e voltado contra Feuerbach como o limite que não chegou
a transpor, por suas próprias deficiências. Por um paradoxo
singular, é do próprio seio da especulação que o materialismo é
interpelado e criticado em sua “falha” (por parte de seu defensor
mais recente, o próprio Marx, que firma assim uma espécie de
autocrítica, reconhecendo a superioridade, naquele momento, da
filosofia hegeliana para compreender a parte ativa, como realização
do sujeito na história, como assumido nas Teses sobre Feuerbach):
“A
principal insuficiência de todo o materialismo até aos nossos dias
- o de Feuerbach incluído - é que as coisas [der Gegenstand], a
realidade, o mundo sensível são tomados apenas sobre a forma do
objecto [des Objekts] ou da contemplação [Anschauung]; mas não
como atividade sensível humana, práxis, não subjectivamente. Por
isso aconteceu que o lado activo foi desenvolvido, em oposição ao
materialismo, pelo idealismo - mas apenas abstractamente, pois que o
idealismo naturalmente não conhece a actividade sensível, real,
como tal. Feuerbach quer objectos [Objekte] sensíveis realmente
distintos dos objectos do pensamento; mas não toma a própria
actividade humana como atividade objectiva [gegenständliche
Tätigkeit]. Ele considera, por isso, na Essência do Cristianismo,
apenas a atitude teórica como a genuinamente humana, ao passo que a
práxis é tomada e fixada apenas na sua forma de manifestação
sórdida e judaica. Não compreende, por isso, o significado da
actividade "revolucionária", de crítica prática..”
A educação
dos cinco sentidos, como já citado anteriormente, é a parte menos
desenvolvida da teoria marxista em comparação com o lado econômico
e sociológico, devido as necessidades já explicitadas dos estudos
práticos e militantes de Marx. Por isto, voltamos a ressaltar, que a
primeira premissa que temos que provar é de que é possível uma
ética em Marx, a contrário senso do que dizem os críticos
conservadores de Marx, que vêem no marxismo apenas uma filosofia
utilitarista prática criada para galgar o poder, ou mesmos as
reduções stalinistas que querem reduzir o marxismo a um manual
prático de tomada do aparelho de Estado. De que Marx não foi um
amoral, um niilista, ou um relativista moral, no sentido de não
depreender das ações humanas um fim ético, justo. Marx valorava a
questão da ética e da moral, na questão do bem para a maior
quantidade de pessoas, já que o proletariado, classe em si, com
potencial germinal para se transformar em classe para si, é a grande
maioria despossuída pela sociedade
O conceito
de bem em Marx está completamente subordinado ao seu humanismo, já
que para Marx, sucessor dos iluministas, o homem é o centro de todas
as coisas. Não é um conceito de bem maniqueísta, claro/escuro,
bem/mal, certo ou errado, mas sim um conceito que em certo ponto se
aproxima do utilitarismo (sem se identificar ou se reduzir a ele,
como sugerimos acima), de maior bem para o maior número de pessoas,
já que no proletariado está a maior parte da humanidade, para
asseverar o que afirmamos, segue o conceito de homem e humanidade em
Marx, inserido na Ideologia Alemã.
“A
primeira premissa de toda a história humana é, naturalmente, a
existência de indivíduos humanos vivos primeiro fato a constatar é,
portanto, a organização física destes indivíduos e a relação
que por isso existe com o resto da natureza. Não podemos entrar
aqui, naturalmente, nem na constituição física dos próprios
homens, nem nas condições naturais que os homens encontraram — as
condições geológicas, oridrográficas, climáticas e outras. Toda
a historiografia tem de partir destas bases naturais e da sua
modificação ao longo da história pela ação dos homens.
Podemos
distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião —
por tudo o que se quiser. Mas eles começam a distinguir-se dos
animais assim que começam a produzir os seus meios de vida, passo
este que é condicionado pela sua organização física. Ao
produzirem os seus meios de vida, os homens produzem indiretamente a
sua própria vida material.
O modo
como os homens produzem os seus meios de vida depende, em primeiro
lugar, da natureza dos próprios meios de vida encontrados e a
reproduzir.
Este modo
da produção não deve ser considerado no seu mero aspecto de
reprodução da existência física dos indivíduos. Trata-se já,
isso sim, de uma forma determinada da atividade destes indivíduos,
de uma forma determinada de exprimirem a sua vida, de um determinado
modo de vida dos mesmos. Como exprimem a sua vida, assim os
indivíduos são. Aquilo que eles são coincide, portanto, com a sua
produção, com o que produzem e também com o como produzem. Aquilo
que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais
da sua produção.”
Assim Marx
relacionava a avaliação de um ato como justo ou injusto de acordo
com esta possibilidade de extensão do maior bem a um maior número
de pessoas (o que o identificaria até certo ponto com o
utilitarismo, mas como dissemos acima, não propriamente, já que não
se reduzia à utilidade a justiça de uma ação), por isto a eleição
do proletariado como sujeito histórico e herdeiro das transformações
sociais.
A educação
dos sentidos assim passa por um projeto total de emancipação, novo
projeto sócio-metabólico e novo processo civilizatório. Peça pela
Emancipação de todas as formas fetchizadas do Capital e a criação
de formas de relações humanas, econômicas, que dispensem
fetichizado e hierarquizado do Capital. Por isto a denominação
“educação dos cinco sentidos”, como idéia de reaprendizado
humano. Na aparente antimonia, recuperação da essência humana
perdida no capitalismo (alienação), numa teoria, a marxiniana, que
não tem nenhuma essência a-priorística. Assim, a Educação dos
Cinco Sentidos é o campo aberto para reconstruirmos toda a história
humana. Para isto não podemos abrir mão do método global e
sistêmico de análise da sociedade, numa relação de conflitividade
analítica crítica com as outras superestruturas que avançaram na
análise da sociedade contemporânea, como a psicanálise (por
exemplo).
22)
Trabalho criativo, emancipação, ócio sem culpa.
Para
finalizar este pequeno artigo, de crivos teóricos sobre a
possibilidade e a necessidade de utilização de uma ferramenta
teórica global, temos que entender duas coisas:
1) Esta
ferramenta global não contém em si toda a verdade, e deve dialogar
conflitivamente com as outras superestruturas de pensamento que
analisam a sociedade moderna. O marxismo não é uma religião, como
método e ferramenta ela não convive bem com juízos apodícticos
que pregam, por exemplo, não estudar Freud ou Nietzsche porque estes
são burgueses. O método marxista de investigação da verdade deve
e pode conviver conflitivamente com as outras estruturas que analisam
a verdade e a história sem juízos falaciosos de autoridade.
2) Não
dizer que o marxismo não contém toda a verdade, não significa
abrir mão, nem de uma visão global do mundo, e nem de um crítica
global da sociedade; também não significa uma heterodoxia na qual
se abra mão do método e se valide juízos sem comprovação na
realidade. Significa que o marxismo, como método de análise deve se
inteirar de todas as críticas feitas ao processo sócio metabólico
do Capital, e a si mesmo como teoria, como forma inclusive de se
aprimorar como superestrutura do pensamento e não pode e nem deve
conter toda a verdade. É um método de análise da luta de classes,
e não pode abarcar todo o processo de conhecimento humano, devendo
ter uma convivência conflituosa e crítica com teorias que façam a
crítica da arte, da ciência, da psique. Se não cairemos naquela
forma de obreirismo totalitarista que classificava uma Ciência e sua
validade de acordo com se “enquadrar” ou não na “teoria
marxista”. O marxismo não é uma religião validadora do
conhecimento humano, mas um método de análise global do conflito de
classes que permeia dá a dinâmica de toda a sociedade.
Não pode
e nem deve responder a todas as dúvidas, não deve ser a totalidade
científica, nem ética, nem filosófica. O que não significa que
esta visão de totalidade não exista na convivência conflituosa das
várias estruturas de pensamento (superestruturas) que explicam a
cosmogonia humana.
Para
finalizar o artigo, que foi iniciado como anotação de aula, o
objetivo final de uma teoria emancipatória não pode ser as revistas
acadêmicas. O marxismo não é apenas e tão somente um humanismo
envergonhado, feito para declamações em salões. A ética do Devir,
Educação dos Cinco Sentidos que propomos, ética do Homem Novo é
uma ética emancipatória. Temos uma sociedade doente de miséria na
abundância e doente de sobretrabalho. Temos uma sociedade que produz
em demasia produtos que não consome, pelo Fetiche e febre consumista
de nos reificarmos nos produtos que fabricamos.
Só homens
e mulheres emancipados do Fetiche do consumismo, num outro processo
civilizatório, poderão realizar um novo processo sócio-metabólico,
no qual o trabalho compulsório, hoje trabalho assalariado, não seja
o eixo de nossas vidas. Que o ócio não seja uma culpa e um
não-fazer, mas tempo criativo humano. Que a maior parte da quota do
que hoje chamamos trabalho seja a realização criativa de todos. Na
sociedade que se erguerá sobre as ruínas da sociedade do Valor, a
idéia marxista, do jovem Marx filósofo, é de que o homem possa
pescar de manhã, ser operário à tarde, e músico à noite. Que não
fique subsumido a uma jornada de trabalho castrante de oito diárias,
mas que dentro de uma jornada humanista básica de trabalho social
produtivo, de quatro, cinco horas, possa utilizar todo seu potencial
e todo seu tempo numa série de trabalhos criativos e realizadores da
sua humanidade.
Proletários
de todos os países, uni-vos, nada tem a perder, se não suas
cadeias, tem um mundo a ganhar.
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MARX, Karl e ENGELS, Friedrich, 1985, O
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Escolhidas, Volume 3, Lisboa-Moscou, Editorial Avante, Edições
Progresso.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich, 1985,
Manifesto do Partido Comunista in Marx Engels Obras Escolhidas,
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MARX, Karl e ENGELS, Friedrich, 1985, O
Capital, a chamada acumulação original, in Marx Engels Obras
Escolhidas, Volume 3, Lisboa-Moscou, Editorial Avante, Edições
Progresso.
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MARX, Karl, 2004, Manuscritos
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MARX, Karl e ENGELS, Friederich, 2007, A
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São Paulo, (tradução Paulo Sérgio Castanheira, Sérgio Lessa);
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Londres; 1995].
MÉSZÁROS, Istvan; 2004, O poder da
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Castanheira); [The power of ideology].
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para além do Capital; São Paulo, Boitempo, (tradução de Isa
Tavares).
MÉSZAROS, Istvan, 2006, A teoria
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Isa Tavares); [Marx´s theory of alienation].
MÉSZAROS, Istvan, 2007, O desafio e o
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tradução Ana Cotrim, Vera Cotrim.
MÉSZAROS, Istvan; 2008, Filosofia,
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2008; (tradução Ester Vaisman).
PLEKHANOV, Guiorgui; 2000, O papel do
indivíduo na história; Editora Expressão Popular; Rio de Janeiro.
SARTRE, Jean Paul, 2002, Crítica da
Razão Dialética: precedida por questões de método; Rio de
Janeiro; DP & A, (texto estabelecido e anotado por Arlette
Elkaim-Sartre; tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira);
[Critique de la raison dialectique, precede de Questions de méthode,
Paris, 1985].
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Atenciosamente,
Atenciosamente,
Roberto Ponciano -
Mestre em filosofia com especialidade na área de ética com a
dissertação Para uma ética do Devir em Marx.