sábado, 18 de junho de 2011

A face oculta do capital

A Face Oculta do Capital

Aqui estão as vontades ocultas de tua ideologia, burguês
E o ódio surdo de tua consciência fascista, que assim te fala:

Ateie fogo no barraco que construíram ao lado de tua mansão.
Acenda um charuto com as chamas da miséria.
Sinta no fundo da tua fossa nasal o chamuscar da sobrevivência.
Penicos de plástico derretendo, televisores em techinocolor
Que já não doparão mais qualquer dor.
Roupas trapos queimando colorindo o céu.
Quem sabe até uma pequena criança faminta
Vire churrasco chorando baixinho, sem forças,
Dando adeus a um futuro que não viria.

Sinta o prazer de ver morrer em tua frente
O mendigo claudicante que te implora pão.
Use o corpo dele como calçada em tua caminhada matinal.
Quem sabe esta imagem possa te ajudar no regime.

Dê comida aos gatos da Praia do Arpoador.
Depois corra irado atrás dos moleques vagabundos
Que ousam disputar a comida de tão nobres animais.
Bata com força na face de um menino desses.
Ajude a marcar o corpo de mais um menor de rua.
Ponha mais ódio insano no nosso caldeirão social.

Compre, Acima de tudo compre.
Curta sua liberdade comprando
Benneton, I-podi, Mitsubshi,
PC-IBM, Sony, Mercedes, Audi.
Faça um poema à liberdade de comprar.
Compre uma identidade nova,
Dando a você o sobrenome de uma famosa multinacional.

Compre também um revólver.
Perca esse medo de nas ruas caminhar.
Assassine o primeiro miserável que lhe estender a mão,
Rompendo a paz de suas visitas ao shopping center.
Não deixe que os desqualificados roubem-lhe o frescor
Que emana do seu corpo bem vestido e alimentado.
Despreze a barriga daquela que,
Sentada na calçada, segura no colo uma menina
Enquanto forma outra no ventre.
Culpe-a pela própria miséria.
Deixe que o pobre amargue o sentido da indigência.

E, se alguma beleza sobrar nas ancas,
Na bunda, nos seios, nos lábios, no rosto de uma pobre trabalhadora,
Não tenha nenhum pudor em usá-la.
Coma toda essa beleza.
Use do corpo dela como quem chafurda num chiqueiro.
Faça com que ela se apaixone, Engravide-a.
Depois a faça abortar ou sustentar sozinha o filho
Que ela deixou vir por “burrice”.
Humilhe-a em sua condição social.
Deixe-a persegui-lo no cego amor dela.
Isto far-te-á bem ao ego.

Cultive os nobres sentimentos,
Os va1ores que mantém vivo e feliz o Estado.
A indiferença a tudo que não te dê lucro.
Aprenda a frase: "Que isto tem a ver comigo?"
O ódio à pobreza e aos pobres que a geraram.
Que te atrapalham o sossego de passear na Zona Sul e na Barra.
Que entulham as esquinas vendendo bugigangas.
Que são tão mal agradecidos quando lhe são serviçais.
Além de fazerem um serviço "porco", vivem reclamando de salário.
Cultive a vaidade: a corporal, a intelectual.
Transforme-se no intelectual da moda
Falando em metáforas esotéricas porra nenhuma.
Apareça em todos os canais de televisão
E em todos os jornais,
Fabricando as fúteis novidades das colunas sociais.
Pinte o cabelo na cor da moda
E fale de todos os seus novos escândalos sexuais,
Alimente a verborragia gramaticalmente impecável,
Construa seu caminho até a academia.
Viva, cada frescor do seu ar-condicionado.
Viva, cada metro de seu apartamento de luxo.
Cada mal trato a seus empregados,
Cada grama de sua cocaína e de seu êcstasy,
Viva, cada glamour de suas festas.
Viva esta vida rica e individual.
Viva para si e para os seus somente.

Proteja os seus filhos da contaminação
Que a convivência com próximo traz,
Poderá nascer nele o sentimento de solidariedade.
Crie seu filho como a um porco:
Vaidoso e burro,
Preso e gordo,
Vazio e egoísta.
Dê-lhe tudo que seu dinheiro puder comprar.
Dê-lhe a sensação de onipotência e o gosto pelo poder.
Ensine-o a mandar.
Pratique a tirania familiar.
Inculque nele a importância de todos esses seus anos de sadismo,
Refinado como o mais caro dos scotchs,
Com a aparência mansa dos senhores circunspectos
E ódio surdo dos grupos de extermínio.
É toda sua essa herança.
Guarda-a com teus guardas mais que armados
E maravilhosamente mal remunerados.
Fique toda sua vida sem dormir
Preocupado com a vingança dos que não comem,
Esquecida momentaneamente no aprazível de sua casa de campo,
E nos passeios ostentosos de iate.

Goza essa herança.
Esta tranqüilidade sustentada a bala.
Ela é tudo que lhe enriquece.
Ela é sua gloria,
Ela é a sua prisão dourada.

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