terça-feira, 12 de julho de 2011

Rio Carnaval 2030


Rio Carnaval 2030

A Escola se prepara para entrar na Avenida, tudo está pronto.
A comissão de frente robotizada, comandada à distância por uma mesa eletrônica emite raios laser que provocam êxtase na plateia de turistas. Os estado-unidenses agora sabem que efetivamente o carnaval é muito mais grandioso que os desfiles de dias de graça.
Nenhuma comissão de frente conta mais com humanos.
Primeiro tiraram as velhas guardas e os passistas da frente das escolas, a última reminiscência desta prática medieval foram os velhinhos em azul e branco da Portela tirando a menor nota entre as comissões de frente. Daí a comissão de frente evoluiu para dançarinos, patinadores, acrobatas, até que uma Escola Grandiosa importou robôs... Isto fazia apenas cinco anos... Ninguém mais queria ver seres humanos na comissão de frente. Robôs eram perfeitos em suas evoluções pirotécnicas eletrônicas, salvo um ou outro problema mecânico responsável por alguns rebaixamentos.
Depois alas branquíssimas e superensaiadas. As academias de dança de salão agora se especializaram em “new samba dance”, algo que de longe lembrava o samba antigo, bem de longe...
Passos marcados de acordo com o enredo. Uma espécie de retardamento mental coletivo onde as pessoas nas alas se idiotizavam imitando as personagens do enredo... De Chica da Silva ao bicho preguiça, havia “coreografia” para tudo...
Algumas bastante complexas, como as que imitavam as saturnais gregas com as hetairas em complicadas funções sexuais.
Os puxadores, não, cantores do New Samba Dance, verdadeiros marajás, eram contratados a peso de ouro. Cantores o resto do ano, sequer frequentavam as quadras das escolas (que na verdade, agora, só serviam mesmo para comemorar as vitórias, já que os ensaios eram feitos nas academias do NEW SAMBA DANCE). Faziam contratos de superestrelas e desfilavam sua elegância brega na revista Caras.
A bateria foi extinta. Atrapalhava a corrida, quero dizer, desfile das escolas de samba. Uma mesa eletrônica sintetizada acompanhava o puxador – quero dizer cantor, que com uns gritinhos do tipo “vamuláminhagente querida”, tentava animar aqueles que puderam pagar cerca de 5 mil dólares para entrar em uma das alas.
Na verdade, neste imenso teatro, nem mais era obrigatório tocar samba, e algumas escolas “inovavam” tocando Hip Hop, Funk, Axé, Rock.
Os Carros alegóricos, enormes, gigantescos, envolviam uma operação logística de guerra para serem montados e ocupavam quase todo o espaço das escolas de samba.
Havia mais gente em cima dos carros que embaixo deles, e na verdade, os turistas (que eram os únicos que tinham condições de pagar para ver o desfile), nem notavam muito quem ainda cismava em fazer as coreografias no chão. Preferiam as coreografias ensaiadas em cima dos carros, onde pululavam as estrelas de cinema, televisão e as supermodelos.
Tirando a Marques de Sapucaí, pouco dava para notar na cidade que era carnaval.
Esvaziado de sentido, ele agonizava, órfão do samba e da marchinha.

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