quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A televisão pede paz


A Televisão pede “paz”

Estava assistindo à televisão no domingo, quer dizer, tentando assistir... Entre um flash da “Banheira do Gugu”, do concurso do novo dançarino do Tchan, de um filme de Kung Fu com 315 assassinatos a sangue frio, apareceram vários artistas de branco clamando por paz...
Bem, logo me veio à lembrança o filme do dia anterior no sábado à tarde na Globo. Vi alguns minutos... Alguns minutos de dezenas de assassinatos, entre estrangulamentos, enforcamentos, morte à faca, morte a tiro, decepar de cabeças... Tudo bem incoerente com a propaganda pela paz que passava nos intervalos.
Ora, já está mais que provado, e comprovado que a exposição das crianças a cenas de violência incentiva à banalização da violência na consciência delas e pode torná-las mais agressivas. As redes de televisão hipocritamente aderiram à campanha contra a violência, mas não deixaram de mostrar, sequer por um dia seus homicídios com os mais requintados toques de sadismo, suas cenas de espancamento, de exploração sexual de menores, de incitação ao erotismo precoce, de sequestros, de assaltos, de estelionatos...
Em suma, o herói é aquele que sobrevive. A ética do herói televisivo, hoje, não se alicerça sobre valores morais, esta baseada na sobrevivência. O herói não é herói porque acredita nos valores que defende, é herói, no mais fundo da mensagem subliminar, porque é mais forte e esperto e consegue sobreviver.
Com esta mensagem sendo bombardeada 24 horas por dia, sete dias por semana, 52 semanas ao ano, que sociedade pacífica pode ser gerada? Quanto mais que hoje, a influência da televisão é tão mais forte que a influência da escola, família, sociedade. Até porque as crianças estão expostas, na maioria das famílias, a doses cavalares de programação televisiva pela ausência forçada dos pais no lar, devido às jornadas extenuantes de trabalho. A televisão é uma espécie de babá eletrônica de 90% de nossas crianças.
Juntando-se a isto tudo a “ética” que a televisão impõe, do vale tudo, desde que seja por muito dinheiro. Do esvaziamento do interior em privilégio da aparência física, da busca insensata de bens materiais para se dar à pessoa a ilusão do “sucesso” (mesmo que neste sucesso esteja implícito e infelicidade e a dor de todos os outros), eis o caldo formador ideológico da violência, a porção mágica que, junto a imensa desigualdade social, explica este frenesi. São valores pessoais mercanditizados inacessíveis à grande maioria. Tudo bem se a mãe for vendida, desde que seja por muito dinheiro. Tira-se a roupa, despe-se toda privacidade, desde que seja por um bom valor. É a sociedade do vale tudo.
Para qualquer campanha contra a violência dar certo, é necessário que a televisão, o carro chefe da mídia, faça sua mea culpa lógico que não somente isto, a desigualdade social é a grande culpada, em primeiro lugar pela violência, mas dentro de uma relação dialética, onde as ideias dominantes de uma sociedade interagem, tem de ficar claro que a televisão não é neutra, nem inocente). Seja mais controlada pela sociedade, na verdade atacada em seu monopólio do poder de informação, socializada pelos agentes políticos democráticos (sindicatos, associações comunitárias, ONGs, etc.), menos violenta e com uma ética alicerçada em valores morais e não no dinheiro. Até para que ela deixe de sera maior invenção do homem a serviço da imbecilidade humana(Sérgio Porto).
Senão, em lugar de velas comuns é melhor a sociedade acender velas de sete dias para todos os santos, ou então, em lugar de apagar e acender a luz para diminuir a violência (como feito em um “protesto” aqui no Rio de Janeiro), seria melhor apagar de vez a televisão de nossas vidas.

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