terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A diminuição da jornada e a recuperação do tempo livre - liberdade e luta contra a alienação


A Diminuição da Jornada e a Recuperação do Tempo Livre – Liberdade e Luta Contra a Alienação

Eric Hobsbawn afirma que hoje em dia vivemos uma época de uma humanidade a-histórica, tempo de uma geração que não conhece de onde vem e, portanto, não tem muito como precisar para onde vai. No tempo da informação fugaz e da internet, de pessoas que sabem pouquíssima coisa sobre tudo, trabalhar com conceitos como alienação e liberdade é sempre confuso e abstrato.
Falar então do conceito de liberdade real e de luta contra a alienação pode parecer apenas um recurso retórico para afirmar a importância da diminuição da jornada de trabalho. Não o é. Marx, que foi o primeiro teórico a questionar não só a jornada de trabalho, mas a forma de trabalho sobre o capitalismo, colocou que a sociedade olhava como trabalho apenas uma ínfima parte da atividade humana. Na verdade, anteriormente ao capitalismo, o processo de trabalho não tornava o homem uma pequena engrenagem de uma imensa máquina. O homem controlava todo o processo de produção. Sobre o capitalismo, desenvolvido em 150 anos, com linhas de produção fordistas e agora toyotistas, o homem torna-se apenas uma peça de uma engrenagem completamente estranha a ele. Nós, na Justiça, vemos isto no nosso dia a dia, quando nossos cartórios viram verdadeiras linhas de montagem com cada funcionário, como se fora um operário, operando apenas uma fase da “produção de um processo”.
Quando se fala em alienação do homem no processo de trabalho, fala-se de um processo histórico que, após desempregar milhões e milhões de seres humanos que passaram a vagabundear pelos campos, criou o tipo de trabalhador que sem nada ter de seu, sem nenhum instrumento de produção, a ele nada restou se não sua mão-de-obra. Este trabalhador histórico, somos, em condições extremamente diversas, nós. Que vendemos não parte de nosso trabalho, mas praticamente todo nosso dia útil para podemos sobreviver.
Mais do que meio de vida, o trabalho nos absorve de uma tal maneira que pouca energia e tempo sobra para se desfrutar os outros aspectos da vida humana como arte, ócio, lazer, família, cultura em geral, esporte, viagens... Vivemos praticamente absorvidos dentro de nossas senzalas de trabalho. Até mesmo o tempo que nos sobra é invadido pela maldição do trabalho, já que temos de computar o tempo em que estudamos para concursos e nos aperfeiçoamos em nossa profissão como efetivo e real tempo dedicado ao trabalho.
Este processo de apropriação de nossa vida, nossa alma, nossas horas, nossos melhores anos pelo trabalho é de tal forma avassalador, rotineiro, comum que nem nos damos conta que ele ocorre. Estamos completamente alienados deste processo de desumanização de nossas vidas. Isto é o que, lato sensu, Marx chamou de alienação no processo de trabalho.
A redução da jornada de trabalho para todos os ramos (não só para nós da Justiça) serve para nos reumanizarmos, descobrirmos que a vida é uma só, não há um ensaio antes da peça, e que estamos tão absortos em nossas prisões trabalho que muitas vezes desconhecemos todo o nosso potencial humano, já que agrilhoados por uma vida parcial e castrante somos obrigados a gastar praticamente todas as horas que estamos acordados apenas e tal somente para o processo de trabalho. Todo o restante ou fica de lado, ou é feito com uma pressa e uma angústia descomunal.
A bandeira de diminuição da jornada de trabalho serve para que nós, modernos escravos da máquina produtiva, possamos ter mais duas horas de liberdade real, para que possamos neste tempo livre de nossas loucas e castrantes funções recuperar o restante de nossa dimensão humana. Passear ao ar livre, ver o pôr ou o nascer do sol, ler um livro pelo simples prazer da leitura, admirar e fazer arte ou até simplesmente dormir e descansar.
Por esta razão tão simples é que a diminuição da jornada de trabalho é um golpe profundo na estrutura da alienação do homem na linha de produção (tão bem exemplificado por Chaplin em Tempos Modernos), um passo na conquista da real liberdade contra a alienação de nossas possibilidades de homens com uma única vida a cumprir neste planetinha azul.

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