terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Encantamento


Encantamento

Sua maior fé era não acreditar.
Bruxa de maldades doces,
De leitos desfeitos,
De homens assombrados,
De sexo faminto,
De noites insones,
Brincava com a inexistência do amor
Como se a vida música fosse,
A absurda música louca dos amantes em volúpia,
De homens escravizados em êxtase
Que mendigavam seu carinho:
Mais que pão,
Mais que sangue,
Mais que Deus.

Todas as pernas se enroscavam em sua cama,
Pernas já sem vontade como a se ajoelhar,
E por poucos minutos em seu leito de aranha,
Que devora os machos em fúria
Tornando-o zumbis de sua vagina,
A vagarem pelo mundo assombrados,
Descaminhos em fúria,
Desta mulher revolta em vento
Que trazia na linha de suas mãos
Muitas encruzilhadas
E nenhum encontro.

Mas de tanto desacreditar na fé
Acabou por recolher
Um pequeno anjo caído expulso,
Como um passarinho ferido de uma só asa.
Um doce menino que não lhe pedia sexo
Apenas beijo,
E este era um abismo interminável
Amargedon de delicadezas
Onde se desfez todo o fel.
E daquela bruxa o feitiço se fez um poema
E um torvelinho de noites infindas.
Sucumbiram os dois
Que então, mortos, mais do que a morte poderia
Um momento, uma parte da vida,
Renasceram num corpo hermafrodita,
Viracoxa,
Como duas partes de um mesmo anjo feiticeiro
Que com duas asas refeitas subiu para os céus e expulsou todo pecado,
Desfez a vergonha e num ato sublime,
Eterno de cópulas,
Polvilhou a música para todo sempre
Para que mulheres e homens ouçam e gozem e amem,
Sem nenhum pudor e qualquer arrependimento.

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