domingo, 30 de dezembro de 2012


Ano Novo?

Estamos comemorando a entrada de um novo ano. Comemorando o que? Que me perdoem os esperançosos da passagem do ano, mas para mim, a entrada do novo ano é somente a mudança do dia 31 de dezembro para o dia 1 de janeiro, nada mais, nada menos do que isto.
Há os que usam roupas brancas, para receber bons influxos; há os que usam cuecas vermelhas, para ativar a sensualidade e atrair namoradas; há as que usam calcinha rosa, para romantizar o ano que entra e desencalhar; há os que comem lentilha, para atrair prosperidade; há os que entram no mar para conseguir boa sorte; os que tomam banho da primeira chuva do ano para lavar tudo de ruim do ano interior.
E as promessas? No ano novo eu vou começar a dieta; no ano novo eu vou estudar e passar no concurso ou no vestibular; no ano novo eu vou arrumar um(a) namorado(a) e vou me casar; no ano novo eu vou conseguir um novo emprego ou ir para um melhor; no ano novo eu vou entrar na academia; no ano novo eu vou aprender inglês ou espanhol; no ano novo eu vou ter uma atitude diferente na vida.
Rituais e promessas repetidos ano após ano e que, na maioria das vezes, nada mais significam do que rituais e promessas, superstições do ano novo, como não passar debaixo da escada ou não cruzar com gato preto. No mais das contas, o patrão continua a explorar o pobre coitado, o tímido não consegui conquistar sua bem-amada, a gorda não deixa de assaltar a geladeira à noite, a frígida continua sem gozar, o que sofre de ejaculação precoce continua a ter medo de mulher e nenhum dos dois busca auxilio psicanalítico; o desempregado não consegue colocação num mercado de trabalho cada vez mais cruel, o curso de inglês fica para o ano novo seguinte e a mesma cantilhena se repetirá no próximo reveillon com a promessa de que “desta vez é para valer”.
Mas, o que estou fazendo, indo contra a esperança, escrevendo um texto de mau agouro contra o ano novo? Dizendo que a mudança é impossível? Nada disto, a esperança é o combustível da vida, o que seria da humanidade sem a chama da esperança de dias melhores. Só chamo a atenção de não se colocar a esperança onde ela não está. Como dizia o saudoso Barão de Itararé (Aparício Toreli), de onde menos se espera é donde não sai nada mesmo. A esperança não está na virada de ano, ou nos rituais apoteóticos, já que a pura e simples passagem do tempo nada traz, como diziam dois de nossos maiores compositores (Chico Buarque e Geraldo Vandré): “Ouça um bom conselho, que lhe dou de graça, inútil dormir que a dor não passa, espere sentado, ou você se cansa, está provado, quem espera nunca alcança” e “Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
A esperança não é um simples esperar e não se alimenta de expectativas preguiçosas e superstições grosseiras. Mudar cabe a cada um de nós, é da natureza do homem a possibilidade e a capacidade de mudança. O revolucionar-se, o começar de novo, o viver o primeiro dia do resto de sua vida, independe da data. Pode ser 1º de janeiro, 15 de março, 23 de agosto, 8 de novembro, não há uma data certa para isto. Tudo depende apenas e tão somente de se buscar dentro de si mesmo as forças necessárias para encontrar um novo caminho, o seu novo ano, pode ser em qualquer data, todo dia pode ser seu reveillon. Mas esta mudança não está em nenhum ritual ou superstição, pelo contrário, esta em uma série de atitudes de esforço, sacrifício e abnegação que podem abrir novos horizontes para a pessoa.
O tímido que sai de seu casulo para tentar conquistar seu amor; a gorda que recupera seu amor-próprio e encara uma dieta para deixar de ser rejeitada; a frígida e o homem que sofre de ejaculação precoce que se reconhecem doentes e vão a um analista para poderem usufruir do prazer e encontrar seus parceiros; o alcoólatra que pede ajuda para se livrar da doença; o desempregado que, tendo oportunidade, retoma seus estudos para conseguir novamente voltar ao mercado de trabalho, tudo decisão humana, baseada na razão e no esforço e não desígnios dos deuses, astros ou dos horóscopos do ano-novo.
É possível uma alternativa na vida de cada um de nós, mas ela está longe de passar pelas crendices do influxo do ano que entra e sim na consciência e no esforço humanos, razão e emoção em movimento.

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