Neste natal, esqueça Manon
Roberto
Ponciano
Chegou o natal e as
pessoas estão vítimas de uma espécie de embriaguez: comprar,
comprar, comprar, comprar, comprar, comprar, comprar... As lojas
cheias, pessoas se afogando em prestações, brinquedos e presentes
eletrônicos caríssimos... é a grande celebração do Deus Manon,
não o Deus Menino, o filho do homem, aquele que se fez carne para
sofrer como todos nós, e que pobre, comunista, carpinteiro e
operário, vagou pelo mundo pregando a igualdade e a solidariedade
entre os homens. Aquele que disse, simplesmente: meu mandamento é
este, que vos ameis uns aos outros, revogam-se as disposições em
contrário, esta lei entra em vigor na data de sua divulgação.
O que há de comum
entre o nascimento do menino Deus, a encarnação do espírito vivo,
aquele que veio distribuir o perdão entre todos os homens, que foi
capaz de salvar a adúltera (ou prostituta, é sempre uma versão, a
leitura) de ser apedrejada; que disse que não veio salvar os sãos,
mas os pecadores, desta festa mercanditizada, com um velhinho
gorducho do anúncio da coca-cola propagando o ide e consumi-vos,
pois esta é a razão de viver!
Que solidariedade é
esta que se faz não através do abraço e da compreensão, mas sim
através da compra, venda e troca de mercadorias?
E o que falar então
para aqueles que não tem acesso à grande festa da mercadoria,
colocados de lado pelo grande templo do consumo, sem dinheiro para
comprar os presentes desta troca insana, e que pedem apenas um pouco
de pão para que não morram de fome enquanto a humanidade celebra o
desperdício?
Que me contradigam e
falem que estou exagerando, mas a insanidade que vejo nesta época,
com pais sacrificados para dar o “brinquedo” ou a “viagem dos
sonhos”, me faz perguntar, que porra de espírito de natal é este!
Afinal, o cristo
proletário, comunista, carpinteiro e filho de carpinteiro, nasceu
numa manjedoura pobre, e seus presentes foram símbolos de adoração
e não a festa do comprar. A pobre criança da manjedoura com certeza
olha com reprovação quando a humanidade transforma sua mensagem em
cifras.
Sim, porque para
confraternizar basta uma mesa, um pouco de comida, solidariedade,
conversas, abraços.
Na sociedade do
desvinculo, onde a única pessoa que fala nas casas é a TV (este
totem da solidão moderna, na qual existem milhares de meios de
comunicação que não comunicam ninguém com ninguém) o natal
seria, em tese, o momento em que as famílias se reúnem e celebram.
Celebram mesmo? Se o ápice da festa é conferir se o presente mais
caro do ano foi recebido ou não, qual o sentido desta
confraternização?
Nem religioso, no
sentido estrito sou, já que não sou membro de nenhuma igreja, mas,
talvez, tenha entendido a mensagem do Cristo Vivo mais do que muitos
religiosos. Afinal, como se pode ser solidário, um dia? Como se pode
se celebrar a cristandade um dia? E nem falo da cristandade em termos
de seguir uma religião, mas de seguir sua mensagem.
Solidariedade é
para todos os dias, ou somos solidários, ou não somos. Amor,
carinho, fraternidade, lutar pela igualdade, ou é para todos os
dias, ou é para dia nenhum. Não adianta nada rasgar as vestes,
bater no próprio corpo, arranhar o corpo com as unhas dentro de uma
igreja, achando assim que se está seguindo a mensagem de Jesus, isto
é apenas ritualística vazia.
O que fazes para que
a terra, nosso planeta, seja o paraíso prometido por Jesus no Sermão
da Montanha?
A mensagem que o
Revolucionário Comunista que condenou a riqueza (passará um camelo
por uma agulha, mas não um rico entrará no Reino dos Céus, se tem
dois casacos, vai e dá um a teu irmão) foi a da igualdade e a da
fraternidade, a da esperança, a da amizade entre todos os povos, a
do perdão, a da fraternidade.
Que fizeste no dia
de hoje, semana do natal para que nosso mundo seja mais igual? Qual
foi a última vez que olhastes para um pobre como um irmão, não
como uma ameaça? Qual foi a última vez que te apiadaste do destino
dos desgraçados? Dos deserdados, dos que tiveram o grande azar de
nascerem pobres ou paupérrimos, na sociedade de Manon, Deus da
Mercadoria?
Para mim é esta a
verdadeira e única mensagem de Cristo. E não dá para adorar dois
deuses, ou se adora Cristo, o jovem do Sermão da Montanha, de
cabelos revoltos e que foi cruficicado por pregar a igualdade radical
entre os homens, ou se adora a Manon (são palavras da bíblia).
Posso não ser religioso, mas captei a mensagem da pregação Cristã,
que no natal não celebramos a mercadoria, mas sim a nossa humanidade
comum, nossa irmandade, nossa cristandade, que está em cada homem e
mulher, independente de cor, raça, credo, etnia.
A humanidade que nos
faz iguais está em muçulmanos e judeus, em negros e brancos, em
evangélicos e espíritas, em pobres e ricos.
Portanto, ao
celebrar o natal, penses que não é através do TER, da mercadoria,
do comprar e gastar que estarás seguindo a palavra do filho do
homem, do Deus Vivo. Mas sim através do SER, do compreender, do
entender que a mensagem do natal é a mensagem da solidariedade, de
que todos somos iguais e que é missão nossa então acabar com a
desigualdade, que não é criação divina, muito pelo contrário, é
uma criação do homem, que assim se tornou lobo do próprio homem.
Natal para mim é
compreender, mais uma vez, que a missão de cada homem aqui é
transformar a terra no nosso jardim, na nossa utopia, com paz e
igualdade social. Nstal é transformar a terra na utopia comunista
pregada por Cristo no Sermão da Montanha. Bem-aventuradas os pobres,
porque eles herdarão o Reino dos Céus. E este reino dos céus não
está em nenhum apocalipse, é uma construção coletiva, que se faz
a cada dia e deveria ser fazer ainda mais, seguindo as palavras do
Cristo Vivo, no dia de Natal.
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