Espumas do mar
Espumas do meu mar,
Bóiam marinas saltimbancas
De barcos que semipartem sempre para lugar nenhum
Ou para dentro desta água infinita
Que ridiculariza e eterniza a morte
Em pequenas vidas continuas e ininterruptas
Que nadam em silêncios insuportáveis
E cheiros hipnotizadores
Que me levam à areia.
Pé, areia, pé, sal, água,
Areia, tatuí, areia, água,
Pé, frio, pé, tornozelo, água,
Pegadas de dois pés apenas
Caminho sobre a areia,
Caminho sobre o mar,
Afogado em almas imorredouras
Em silêncios nascedouros de vernizes,
Aquarelas de flauta doce
Em sóis vermelhos espargidos
Em brumas que são quadros
De homens que se pintaram em maresia,
E sumiram dentro de agonias,
De ondas que eternamente quebram
Rindo do instante pequeno
Em que contemplamos
Fictos, olhos, perdidos pensamentos
Lástimas, pele salpicada de barulhos
Deste mar entrecortado,
De Botafogos e Cáspios
De Angras azuis perdidas
Em águas calmas que me levam ao fundo
E que me suicidam continuamente em afogamentos
E sangrias desatadas
Em barcas perdidas rumo ao inferno,
Ao pensamento, ao desalento.
Mar, dominador insaciável de meu sono
Desejo ininterrupto,
Instinto imaculado.
Mar, bravio e calmo como cópula.
Mar, nascentes desesperadas a te procurar,
E desaguar como fêmeas no cio,
Amazonas consumido em tua virilidade
Pororocas de sêmen vicinais
Nascimentos de mortes repetidas.
Mar.
Em ti todo silêncio é múltiplo.
É toda música é uma oração.
Todos os deuses são teus
E todos os homens joguetes de tuas marés.
Essência escondida de nossos úberes
Incontida permanência da natureza.
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