sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O sindicato Macdonalds

O sindicato Macdonalds - um ensaio sobre o movimento sindical.

Roberto Ponciano e João Mc-Cormick
Que os sindicatos estão burocratizados, é lugar comum. Que os sindicatos têm dificuldades em se referenciar na base e mobilizá-la, é sabido até no reino mineral, que estão perdendo o norte de um processo
emancipatório e de uma política classista, que vá além do umbigo da categoria e carregue uma plataforma mais geral, que abarque a política de toda a classe para toda a sociedade, também é sabido e consabido. Todavia, há que se fazer reflexão sobre o bloco histórico que está atravessando a classe trabalhadora, o
caldo de cultura, “cultura de massa”, no sentido crítico de Adorno, de Cultura feita pela indústria cultural em que se insere esta base de trabalhadores (e, de certa forma, também, muitas vezes, acriticamente, as direções sindicais), o que eu vou chamar neste ensaio de “sindicato McDonald's”.
Alguém lembra da chegada do McDonald's no Brasil? Eu era criança, e lembro até hoje da propaganda, do jingle, grudou no meu cérebro, infelizmente, vou morrer e lembrar eternamente desta porcaria: “dois
hambúrgueres
1, alface, queijo, molho especial, cebola, picles num pão com gergelim”. Era eficiente a propaganda, dava água na boca. Aparecia sempre uma menina simpática, sorridente, com um uniforme limpíssimo do
McDonald's, e tinha mais na propaganda: se em 3 minutos seu lanche não estivesse entregue, o Big Mac, as batatas fritas e a infalível coca cola, você não pagava; consumidor satisfeito, e sempre com a razão, acima de tudo.
Corta a cena, 10 anos depois, uma das minhas primeiras namoradas trabalhava no McDonald's. Salário mínimo, sem direito a vale refeição (o “almoço” era uma das porcarias de lanche do McDonald's), 30 minutos de almoço, correndo, suando, aprendendo “tudo” (que era um nada), um ser “multitarefa”, fritar, obedecer, limpar, obedecer, sorrir, obedecer, cortar salada, obedecer, tomar esporro, obedecer, ter foto de funcionário do mês, obedecer. Os piores pesadelos de “Admirável mundo novo”, são reais na
verdade. O ser kafkaniano do Castelo, do Processo e da Metamorfose, existe.
Se alguém que trabalhe no McDonald's se filiar a um sindicato, em todo mundo, é demitido sem justa causa; se reclama, é demitido; se atrasa, é demitido. American 1984 orwelliano way of life.
Mas os consumidores estão satisfeitos. A coisa mais interessante no mundo moderno é a redução ad absurdum das pessoas a consumidores. Se o seu Big Mac atrasar, caro leitor consumidor estúpido (“nossa, que é isto, o ensaísta está me chamando de estúpido, de idiota, ele não pode fazer isto, o cliente tem sempre razão! Afinal, eu pago o sindicato!”, você me responderá), a culpa será sempre de algum trabalhador explorado, mal pago, morador de favela, e com ele você gritará, colocará o dedo na cara, exigirá o lanche
infalível do M do Palhaço Ronald em 3 minutos. A culpa nunca será dos acionistas multimilionários e invisíveis do McDonald's, ou da sua própria ânsia voraz, leitor alienado, de comer algo que é bem mais propaganda que comida.
Corta novamente, sindicato, 2012. Encontro de Comunicação da Fenajufe, escutei diversas vezes a frase, temos que agradar nossa clientela.
Temos que agradar nossa clientela. Temos que agradar nossa clientela.
1 Na verdade, a propaganda inicial foi “dois hambúrguer”. A questão do erro de concordância
foi a única reclamação feita à época. Observem, na Fenajufe não há nenhum sindicato filiado à Força Sindical, à UGT ou às centrais ditas “pelegas”, os sindicatos que são filiados, ou são filiados à
CUT, ou à Conlutas, em tese, duas centrais classistas. Não, não precisam se assustar com o lugar comum, fiquem tranquilos, este ensaio não é um daqueles enfadonhos artigos que vai falar da crise de representação do sindicalismo, ou se o dirigente sindical da central “A” tem a cueca mais vermelha que o dirigente sindical da central “B”. Este artigo inverte o jogo, e vai analisar a categoria, sim, a categoria.
Você, caro leitor estúpido, que me lê agora, homem branco apedeuta de classe média, que lê Veja, escuta Bonner Simpson e acredita que o Jornal Nacional é imparcial e fala a verdade. Nosso “público alvo”, nossos “clientes em potencial”, que no caso dos sindicatos cada vez mais e mais se comportam
como clientes do McDonald's, consumindo seus Big Macs. Não conseguimos compreender o comportamento das direções se não compreendemos que base esta direção trabalha. Somos seres humanos históricos, criados pelo caldo de cultura de nosso bloco histórico. Que seres humanos estão sendo formados neste início de século XXI, que “cultura de massa” os sindicatos enfrentam, que relações se podem criar a partir daí. A declaração de que temos que “agradar nossa clientela”, “atingir nosso público alvo” ou coisas afins, que seriam bastante estranhas a um dirigente de um sindicato da década de 60, 70
ou 80.
“Enquanto brincam no gramado as moças chiques/ Eu quero chuvas pra estragar o piquenique/Eu não provei aquele tipo de xarope/ Que está por cima nas pesquisas do IBOPE/ Eu estou remando rio acima por prazer/ Não há nada a desculpar, foi por querer/ Me passe o sal pra botar na sobremesa/ O
Grande Público cansou minha beleza”, esta música da dupla Aldir Blanc/João Bosco, revela o caldo de cultura de uma outra época histórica. Não te chamei, caro leitor, de estúpido, boçal, idiota, alienado, imbecil, consumidor acéfalo à toa. Deve estar com vontade de fechar este texto no seu laptop/computador,
ou de rasgar o papel e me chamar pra porrada, ou melhor, me processar por danos morais. A intenção era esta: te perturbar, te molestar, colocar formigas e moscas varejeiras no teu piquenique chique.
Enquanto na década de 60, no auge da contracultura, não havia por parte nem dos escritores, nem dos músicos, nem das lideranças de “agradar a clientela”, as lideranças sindicais passaram por uma metamorfose/adaptação e agora precisam “agradar a clientela”, atingir o “público alvo”. Pesquisas de
marketing e aulas com marqueteiros muitas vezes substituem os livros de Gramsci, Lênin, Rosa Luxemburgo, Marx etc. O trabalhador virou consumidor e seu sindicato é cada vez mais uma “instituição formalista”, cada vez menos sindicato.
Sindicato é órgão de mediação de classe, órgão de luta Capital x Trabalho, órgão de regulação da exploração da força de trabalho e da maisvalia.
É órgão político. Não é partido político, não faz a disputa de hegemonia na sociedade, quem faz isto é outro sujeito coletivo, os partidos. É fato que partidos que não conseguem se representar na sociedade utilizam os
sindicatos como correias de transmissão e tentam usá-los para tentar passar suas políticas, de forma sub-reptícia, isto foge, todavia, ao escopo deste ensaio. Mas, afirmo que sequer os sindicatos hegemonizados por estes partidos de extrema-esquerda, que sequer têm 1% do eleitorado brasileiro, escapam da
sina do sindicato McDonald's.
Nos sindicatos McDonald's, o investimento em lazer, sede campestre, festas, convênios são dezenas de vezes maiores que em formação. Até mesmo o dinheiro das mensalidades vai para o mercado financeiro, no qual justamente se instala o grande Capital. E com este mercado, os trabalhadores pagam,
pasmem, juros! Não falo em luta política, porque a luta por maiores salários não retira do sindicato o rótulo de sindicato McDonald's. Querer ganhar mais para consumir mais, ainda que esteja de forma direta relacionado à questão da regulação Capital x Trabalho, está completamente subsumido a um estilo
político de manutenção do status quo, que faz do sindicato a correia de transmissão do estilo de vida ganhar mais para consumir mais e assim ser um consumidor voraz melhor adaptado. Isto nada tem a ver com política emancipatória, seja o sindicato da CUT, Conlutas, Força Sindical, UGT, PQP etc.
A lógica é perversa. Aqueles sindicatos que conseguem organizar a categoria para lutar, efetivamente só conseguem lutar por melhores salários ou benefícios. Não há nestes sindicatos nenhuma discussão de classe, consciência de classe, conteúdo de classe, visão para além do umbigo sindical. A lógica é
de fazer melhores acordos coletivos com ganhos salariais maiores e ponto final. (poderia falar brevemente da “trade union” inglesa) Em muitos sindicatos aposentados e pensionistas chegam a ser sacrificados, numa lógica de se fazer acordo somente para os trabalhadores “ativos”, seja na famigerada política de “divisão de lucros” (que faz o trabalhador realmente acreditar que é possível um acordo entre lobos e
ovelhas), ou em aumentos em valores que só são pagos durante a vida ativa do trabalhador, apenando aposentados e pensionistas (no caso de servidores públicos que teriam direito a estes aumentos) ou licenciados por saúde, nocaso das empresas privadas. É perversa, porque pervertida. Como não há mais
discussão de classe, de pertencer, de fazer parte, não há espaço para discussões classistas.
Afinal de contas, o que diabos é “divisão de lucros”? É o suprassumodo entreguismo de classe. É garantir para os trabalhadores que é possível sim,numa sociedade capitalista, dividida por classes, nas quais as barreirasinvisíveis de classe são fortíssimas e não são quebradas por acordostrabalhistas, “dividir os lucros” entre patrões e trabalhadores. Assim, ostrabalhadores, em lugar de lutar por melhores salários, que não são quota partedo lucro e tem de ser pagos haja lucro ou prejuízo, são levados ahipotecar uma solidariedade de classe a seus patrões, se na lógica fraudulenta da contabilidade das empresas capitalistas, os patrões usarem 99,99% do lucroda empresa para fazerem “reinvestimentos” na produção e destinarem aos
trabalhadores, 0,01% do lucro restante, para ser partilhado entre as centenas ou os milhares de trabalhadores, os sindicatos McDonald's, que assim usurpou o direito aos trabalhadores de incorporarem estes ganhos ao seu salário ou aposentadoria e de ter definitivo avançado na questão da luta contra a
exploração de classe, vai celebrar isto como avanço.
No fim das contas é mais dinheiro que entra, mais consumo, algo mais que se compra e o trabalhador rebaixado novamente a condição de meroconsumidor, confundindo sua relação com o patrão, que é de exploração e de luta, numa relação de ganho e consumo. Nesta linha, a substituição de salários
por ganhos, nos quais os trabalhadores ficam instigados a trabalhar mais, para ganhar mais. Nesta linha do sindicato McDonald's, os direitos vão sendo mitigados e os trabalhadores cada vez mais se sentem quota-parte da classe burguesa.
Descanso aos domingos? Não, hora extra! Em lugar de o sindicato lutar para garantir um salário igual sem trabalho dominical, o sindicato alardeia que com o trabalho aos domingos e 100% de hora extra o trabalhador que virou um pequeno patrão consumidor (na ilusão pueril de sua fantasia  oligofrênica) vai ganhar mais, trabalhando mais. Assim, em lugar de se tirar um salário maior da luta e da contenção da exploração, o salário maior vem de uma exploração e de um sacrifício maiores. Jornadas de trabalho de 10, 12 horas, revivendo os piores momentos da Revolução Industrial, com o beneplácito tácito dos próprios trabalhadores silenciados por este caldo de cultura, já que, por exemplo, no Comércio de Shopping Centers e afins, o salário foi diluído e os ganhos proveem da venda de cada produto.
O trabalhador, na pior lógica da Avon, do Círculo do Livro ou da Jequiti, fica ele responsável pelo seu próprio salário e destino. Assim, uma semana ruim, ou um mês ruim de trabalho, não é debitado na conta do patrão, que teria de diminuir seu lucro para pagar o salário averbado, mas sim da sorte
ou do revés do próprio trabalhador, que vira competidor desigual de seus pares, haja vista que o único objetivo de sua vida é conseguir vender, para lucrar, para novamente consumir.
Alguns vão me obliterar e dizer que esta lógica só vale para sindicatos que trabalham com lucro por venda. Reafirmo que não é verdade, já coloquei aqui claramente ramos sindicais que trabalham o PLR, que tem uma gama infinita, que passa por sindicatos de produção de diversos setores,
autopeças, petróleo, química, bancários e que basicamente vão abarcando toda a cadeia de produção basicamente com exceção do setor informal. No setor público, a lógica da luta apenas pelo salário, com partes da categoria sacrificando conquistas históricas (veja o movimento pró-subsídio no Judiciário
e MPU que é capaz de sacrificar conquistas históricas para privilegiar apenas
ma parte da categoria), com aumentos só em gratificações, que não são
repassadas a aposentados ou setores da categoria (quando o Governo sinaliza
aumento só para os professores das universidades, sacrificando todo o restante
dos trabalhadores da base universitária), mostra que a lógica é puramente
monetária.
A grande verdade é que por baixo da retórica “classista” tudo que
“incomode” a categoria, tudo que cause polêmica, tudo que perturbe a relação
de consumo, a relação, trabalhador sindicalizado/consumidor x McDonald's é
sacrificada. Temas polêmicos nas revistas, nas páginas ou nos debates internos
são abafados. As pautas chamadas transversais, como o racismo, a homofobia,
o machismo, o aborto, as quotas, em geral aparecem nas plenárias e ou
congressos, que mais parecem movimentos catárticos. Nestes momentos de
culto, a vanguarda da categoria esboça seus altos voos teóricos e se digladia
duelando sobre temas que no dia seguinte à plenária serão sacrificados,
jogados às traças, para reaparecerem em outras plenárias, novamente.
Qualquer política de controle da exploração do trabalho, com redução
da jornada, enquanto a lógica for de sindicato McDonald's, fica fadada ao
fracasso. No sindicato McDonald's, as relações com a categoria não preveem
nenhuma contradição dialética, nenhum embate. Até a democracia nas
relações de trabalho não são sequer discutidas. Eleição por servidores para
presidente ou diretor geral de tribunais é vista como utopia. A classe estudantil
lutou e conseguiu que pelo menos 20% dos assentos em todas os colegiados
das universidades fossem reservados a estudantes. Mas a vanguarda, que de
vanguarda só tem o nome, tem uma posição “vanguardista olímpica”, não indo
para a disputa na base das concepções da plataforma dos trabalhadores.
Assim, em tese, os sindicatos defendem a redução da jornada, a luta
pelas seis horas, mas todas as vezes que sentam para sentar e negociar, a
primeira coisa que é sacrificada é a redução/regulação de jornada, ora por
conta dos aumentos, para não “atrapalhar os aumentos” (ainda que redução
de jornada seja aumento salarial direto), ora para não atrapalhar as “divisões
anuais de lucro” (ou seja, o direito é vendido na mesa de negociação), ora
trocado por aumento nos percentuais de horas extras (novamente um direito
vendido na lógica de trabalhador como pequeno patrão corresponsável pela
empresa).
Vanguardismo não é vanguarda. Os sindicatos McDonald's, de todos
os matizes, trabalham na lógica da popularidade, eleição, manutenção das
máquinas sindicais. Assim, qualquer tema polêmico, que porventura atrapalhe
a hegemonia (vista apenas e tão somente como hegemonia eleitoral) tem que
ser sacrificado à base, pois “obra de saneamento básico” não dá voto. Num
basismo contraditório da lógica da indústria cultural.
Base aí não é vista como o conjunto dos trabalhadores de base, que
necessita do sindicato como órgão de intermediação para entender e despertar
para a luta de classes. Base é vista como o senso comum diluído, que vota de
tempos em tempos para manter um grupo na máquina sindical. Não é à-toa
que nos eventos culturais dos diversos sindicatos, que vivem reclamando da
hegemonia da Globo, mas que reproduzem em suas festas a cultura
hegemonizada de massa, e é um tal de Michel Teló, “eu quero tchu, eu quero
tchá”, nos momentos em que o sindicato deveria ter uma cara de defesa da
cultura popular contra-hegemônica. E ai daqueles que levantarem estas
contradições. Correm o risco de serem chamados de “elitistas”, na pior versão
“Faustão/Boninho” de indústria cultural, porque o povo gosta mesmo é de
porcaria. Os sindicalistas introjetam as visões hegemônicas e nem se dão
conta.
Assim, qualquer trabalho de contra-hegemonia e de consciência de
classe pode ser contraproducente eleitoralmente e deixado de lado. Por isto se
gasta dez vezes mais em sede campestre que em formação, por isto se gasta
dez vezes mais em um setor jurídico de resultados do que numa imprensa de
formação, por isto que as grandes pautas de classe, e qualquer luta contrahegemônica
é sempre sacrificada na lógica de não assustar o eleitor/cliente
para daqui a dois ou três anos. Não se falará, por exemplo, na perseguição aos
cultos afro-brasileiros e na necessidade de defesa do Estado Laico, numa base
com perfil religioso católico ou protestante conservador e se deixará de lado a
pauta da emancipação feminina ou do aborto. Não se pode molestar a
clientela.
No sindicato McDonald's, os dirigentes sindicais abrem mão de ser
vanguarda e viram administradores viciados na máquina e preocupados que
esta mesma máquina funcione como uma empresa. Assim, na relação de
respostas, por e-mail, facebook, ou de qualquer maneira de abordagem direta,
o dirigente vira uma espécie de ombudsman, que não tem voz ou opinião, mas
como um atendente de telemarketing deve sempre dar a maior satisfação ao
cliente (diga-se de passagem que não há nenhum trabalhador mais explorado
que o trabalhador de telemarketing, a versão moderna, e sem direitos, de uma
senzala).
Qualquer resposta provocativa, crítica, irônica, sarcástica do dirigente
sindical o torna um péssimo ombudsman. Ele não é mais dirigente, não está ali
para disputar corações e mentes, para fazer o debate, ele está ali para
entregar o hambúrguer, o Big Mac em três minutos. E na lógica pervertida do
trabalhador consumidor, qualquer coisa que dê errado no Big Mac a culpa
passa a ser do dirigente. Como não raciocina, não se vê, não tem
pertencimento de classe, não faz análise de nenhuma conjuntura, este
trabalhador consumidor quer apenas seu aumento, nada mais.
Assim, o dirigente sindical, agora vendedor de Big Macs tem que
apenas entregar o aumento. Será bom ou ruim se entregar o aumento ao
trabalhador, seja na forma que for, tudo o mais pouco importa. Poderá ser
pelego, de direita ou de esquerda, desonesto, o que for, a relação com ele é
uma relação de consumo, não uma relação política de mediação consciência,
ou sindicato deixou de ser um ente político, agora é uma empresa como
qualquer outra que tem de entregar seu produto (o aumento) no momento em
que o consumidor pedir. As lutas não são coletivas, são delegadas, constroemse
greves ausentes, em que a vanguarda é substituída por profissionais
contratados pelo sindicato e a relação com o sindicato é sazonal, restrita
apenas à época do aumento/dissídio.
Não é possível sindicatos construírem lutas emancipatórias, de
quaisquer tipos, enquanto não tiverem a coragem de se tornarem impopulares
num primeiro momento e destruírem a lógica de sindicato McDonald's. Para
isto a construção de uma vanguarda real, que dispute corações e mentes na
base, no cotidiano, é fundamental. Sem o vanguardismo estúpido de se
construir políticas de vanguarda só para as plenárias e congressos, mas
disputar estas políticas no dia a dia, construindo uma sólida consciência de
classe.
Sem o basismo obreirista de ver a base como intocável, na verdade, a
base reduzida ao mero papel de consumidora votante, que oferta o voto e em
lugar recebe o aumento, mas na visão de base de categoria como
trabalhadores nos quais se constrói a consciência de classe. Ou enfrentamos e
revertemos, com contracultura de classe, a ideia de sindicato de consumidores
para construirmos uma emancipatória de trabalhadores coparticipantes,
constituintes de consciência e unidade de classe, ou não conseguiremos
construir qualquer política emancipatória e projeto de país. Esta organização
de sindicatos McDonald's não nos serve, necessitamos de outra, de sindicatos
formadores e combatentes construtores de um perfil classista e emancipatório.
Roberto Ponciano é escritor, mestre em filosofia, com especialidade
na área da ética
João Mcormick é diretor de base do Sisejufe na Justiça Eleitoral e fez acréscimos e ajustes no texto inicial.

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